domingo, 30 de outubro de 2011

Paixão dominical

As pálpebras brigaram com a alvorada, pelo direito de continuar sonhando naquela manhã nublada, enquanto os lençóis suplicavam para que a pele permanecesse envolta pelo casulo de algodão. A briga perdurou metade da manhã, quando os lábios ansiaram pelo beijo do café guardado numa garrafa.
Mas a garrafa chorou novamente, molhando o copo com apenas algumas gotas de seu sofrido néctar. A faca machucou a pele do mamão recém apanhado, que foi palco para a arte do amadurecer das frutas e repousou ao lado deste que aguardaria um outro desjejum.
O vento me cumprimenta, refrescando o corpo a escrever, enquanto faz os objetos dançarem ao seu ritmo. Da rede, meu olhar percorre distâncias até o cume de uma das montanhas que cercam o vale, onde nuvens de chumbo derramam sua sombra.
Ofereceria ao Sol preguiçoso de hoje um gole do elixir capaz de roubar qualquer timidez na rotina. Mas os tons acinzentados que se espalham pela vista realçam as cores dos caminhos de meus pensamentos, que voltam lentamente do diálogo com Heidegger, no qual se dispuseram a apaixonar-se nessa manhã dominical.

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