sábado, 19 de novembro de 2011

Num repente, dei seu nome...

Cansada de conter pensamentos em pequenas implosões saí para descarregá-los pelas calçadas, numa corrida onde hesitei apenas quando os ribeirões de piche cortavam meu caminho, quadriculando a rota da menina sedenta pelo seu próprio suor.
Meus tênis engoliram os minutos, trazendo a digestão para as veias pulsantes de minha tez e cada passo cavava um sulco profundo onde podia depositar idéias mastigadas para esquecê-las no movimento seguinte. 
Ao esvaziar minha mala invisível e exaurir o fôlego e a força dos tornozelos encontrei o pouso perfeito, entre um rio urbano e um bambuzal, num bairro pouco acimentado que era omitido pelo cinza das gloriosas edificações.
Pousei sobre a embriagues de um novo poente, enquanto as gotas de suor acariciavam minha pele há muito não tocada.
E o sol ia escorregando entre dois prédios, sorrindo rosas em cima das nuvens que acolchoavam sua partida... Eu ia esticada no colchão verde, trançando pensamentos e atirando-os ao poente para tentar laçá-lo e persegui-lo além do horizonte.
Decidi esperar a primeira estrela me convidar para voltar para casa. Encontrada com o cansaço, não mais me sentia só e esse segrego eu guardei no bolso de uma velha bermuda jeans... 
Mergulhava o olhar no azulado que se opunha ao poente a procura do meu sinal de luz, enquanto palhas se embrenhavam nos fios castanhos despenteados e livres à passear sobre minhas costas. 
Mas foi num repente que se pintou a primeira estrela, bem acima das nuvens que devolviam o rosa emprestado pelo sol. Sorri para ela e lhe dei seu nome, rs, que repeti ao levantar-me e persegui-la com os pés apaixonados. Saboreava lenta os quarteirões, de mãos dadas àquela que evocava pelo nome do menino a descobrir esquinas novas comigo, que sempre diziam a mesma coisa: "haverá um poente para cada dia e uma estrela disposta a passear com meus olhos."

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