Sentei novamente ao lado do meu silêncio que não era a ausência de palavra nenhuma, mas uma forma de co-existir nessa acinzentada desordem sentimental.
Cansada de vomitar meu mundo e vê-lo dissoluto numa poça que permanece apenas para desenhar os desvios das pessoas, apanho a agulha e costuro minhas palavras, uma a uma, para não escaparem mais de minhas roupas.
Levanto e caminho mais uma vez, procurando uma cor para substituir aquele cinza implicante.
Poderia eu colorir-me com a sujeira gratuita ao inalar a fumaça dum canudo de erva ou beijar o copo dum veneno barato... Comeria um pedaço de carne, falaria palavrão ou agiria promiscuamente?
Não. Sou ridiculamente avessa aos prazeres naturalizados e apaixonada pelo domínio das minhas vontades.
Deixo-me corroer com a inquietude que me acompanha pela peregrinação no final desse poente, que congelei numa memória mecânica e deposito meus passos pelos antigos becos escuros onde já me perdi.
Olhos ávidos, devoro os quarteirões com a fome de linha de chegada, a esperança salivando a cada esquina pela surpresa que talvez esteja me esperando lá.
Mas só pousei na parada a tempo de ver um tumulto na praça em frente, onde minha recompensa não estava.
Também não estavam os beijos coloridos e parti cinza.
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