Seu fogo que vem pintando as cores
de um mundo adormecido não transpôs as nuvens naquela alvorada e fez de sua luz
música para os sonhos despertos de um alguém que já cumprimentara seu silêncio.
Os pássaros cantavam também e a música deles misturava-se com a dos pingos que caiam do lado de fora da janela,
num ritmo isento de qualquer influência do modismo implantado pela mídia. E
então dançaram meus pensamentos, empurrando o cobertor que já havia se colorido
de amarelo sob a incidência daquela manhã chuvosa.
Vestia um pano velho e os
sorrisos irrigados pela chuva de léxicos que desaguou enquanto um dos sonhos
que minha cama cria para mim abrigava-me da noite.
No meu quarto haviam duas
janelas e numa delas eu guardava um poeta e sua chuva de palavras onde banhavam-se
minhas esperanças secretas, dançando no ritmo mudo que ele compunha e
assoprava. Era matéria desmaterializada e talvez antimatéria ao mesmo tempo.
Era sua coleção de dígitos que desapareciam após um clique num dos pequenos
botões que serviam como parapeito da sua janelinha e apareciam na minha
janelinha, sendo então matéria desmaterializada e materializada através dos muitos
quilômetros de distância, sem confessar as vias por onde trafegavam. Chegavam
sem aviso prévio, entravam pela minha janela anunciando-se com um “bipe” e
tornavam-se então a antimatéria, que consumia toda a atenção a sua volta e o
oxigênio que não podia mais ser tragado pelas minhas narinas.
E então a luz do sol continha-se
entre meus dentes, exibindo-se naquela manhã onde apesar de o sistema
vigente ter me liberado dos compromissos matinais, meu relógio orgânico despertava-me
no mesmo horário. Os sonhos de ontem já estavam espalhados pelos tacos de
madeira do chão do meu quarto e amaciavam minha caminhada até a pia onde um
beijo refrescante me aguardava nas cerdas da minha escova. Cumprimentei a
menina que estava lá a me encarar com seu sorriso mudo e viajei por um
instante nas ondas que se faziam nas pontas de seu cabelo recusando-se à doutrinação de qualquer pente. Ela tinha olhos pequenos, mas neles cabiam tudo o que
via. Então seu tamanho não era medido pelas dimensões do espelho e sim pelo infinito atrás dos seus olhos.
Sorri de volta para ela e comecei meu dia molhando os pés no dissoluto das nuvens que uma amiga me encorajou a postar e deixando que outras molhassem os entes além da minha janela...
Companhia sonora: http://www.youtube.com/watch?v=HvCdV0ckqVE
;)
Léxico, este jogo de infinitas palavras que desencadeiam profundas sensações...
ResponderExcluirE pode ter certeza que não há melodia mais bela e profunda do que a chuva, esta que está a parte de todas as melodias da moda...
Propício para um dia que nasce em pingos d´´agua.
Abraços, Corujinha... rsrsrsr