domingo, 4 de dezembro de 2011

Por trás dos girassóis...

Acordei e no primeiro piscar das pálpebras saboreei a carta de alforria que pousara em minhas mãos após a última noite de avaliações institucionais das releituras estudantis do mundo. Então bebi do sol, me vesti de nuvens, descartei planos para o almoço, esqueci o celular, o relógio, os livros e as listras das minhas meias sujas, jogadas no canto do quarto. Esqueci do que me ensinaram a nunca deixar de lembrar, sorri sem confessar meus dentes e beijei a sagrada dose de café que me espera todas as manhãs no mesmo buteco.

Naveguei pelos ribeirões de piche, pegando carona nos rolamentos mecânicos dos navios que percorrem as praias intraurbanas em todas as direções, escancarando a preponderância econômica nas edificações das suas areias. Pelas janelas avistava a economia administrativa das minhas próprias poesias, que pelos meus olhos colhe as palavras no sistema de engrenagens orgânicas impulsionado por um vento que ignora a meteorologia e passa a assoprar pelos interesses sobrenaturais do capital. O papel para transcrevê-la é pautado pelas regras desse mesmo sistema que me ensinou a simplificar o mundo entre o belo e o feio e poetizar rapidamente apenas o que é belo. E já que não encontro a saída de emergência dessa grande nave que me carrega atrelada a essa transvaloração dos valores, peço parada ao motorista e salto para cima de um muro de onde posso admirar os brotos das contra-ideologias anti-hegemônicas plantados entre as árvores e nascentes, pelas mãos dos duendes de jardim que me sorriem embarreados e cheirando a protetor solar.

Transponho o muro e me abrigo entre as cortinas do camarim que me permite assumir as vestes desgarradas de um modismo contemporâneo e me traz um novo sorriso ao interpretar o meu papel social favorito. Aceito a cobertura do creme vendido sob a promessa de proteção anti-raios violeta e finalmente despejo-me junto à base branca que se mistura aos pigmentos para conceber as cores aspiradas pelo plano da imaginação.

O sol vem prometendo seu calor e a luz que vence a delicadeza das nuvens, condescendido pelos miseráveis espectadores que estarão de mãos dadas naquele refúgio intra-urbano até o poente.
Atrás dos pincéis e de cada pingo de cor pela pele e roupa, a menina e seus segredos brincam entre girassóis tão solitários e sorridentes quanto ela.

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