domingo, 15 de janeiro de 2012

à.

Queria ser carinho, acidental ou à convite, em qualquer mão capaz de alcançar tua pele
Ou então balbúcia, que se fizesse ouvir por filosofia ou retórica boêmia te envolvendo mesmo que por educação
Queria ser corda de violão, baqueta, vulneráveis aos seus dedos e abandonados pelo descaso do final da noite que você descarta
Poderia ser o banco da praça que te acolhe, um vento à cumprimentá-lo ou uma estrela com a qual você conversa da laje
Poderia ser parede do teu quarto, lençol, papel, teu garfo...
Poderia ser seu shampoo, a escova de dente, os dentes da chave, a chave pra qualquer porta emperrada
Poderia ser passarinho, fada, e pousar no parapeito da janela que se abre para um céu de concreto


Mas resumo-me à insignificância de ser apenas alguém que poetiza suas vontades, para torná-las suportáveis, entendendo-as como vontades apenas, aceitando-as amargas ao descerem goela abaixo, e engolindo-as mesmo assim...

Pois eis que estou em mão nenhuma, não tenho boca. Meu corpo não permite música, não se desmaterializa, nem emana luz imprópria de astro. Não sou cosmético, utensílio, envólucro. Não tenho asa, tampouco fantasia.
Só lhe respondo ao acaso, quando você fecha os olhos e me chama na inconsciência dos nossos sonhos em comum.

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