quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Dread de laranja

Mergulhei num copo de suco de laranja, quando a fruta das mãos de uma pequena incerteza escorregou, num ato improvisado.

Alguém bagunçou meu cabelo, dedilhando-o como nylon de violão.
E eu permiti ser silêncio àqueles dedos que sincronizavam sua música às batidas do meu coração.
Fui partitura em branco, acomodada no parapeito de um conflito, observando a desarmonia daquela vontade que deixei na cama com um livro... observando o violeiro e o meu violão.
Então liquifiz uma ironia sorridente, para bebê-la junto ao veneno que exprimimos no abandono de uma razão, que talvez nunca tenha chegado a ser mais que uma intenção de racionalizar ou uma fantasia de moral tecida pela culpa da amoralidade.
Enfim, já não havia mais silêncio como qual eu pudesse me vestir, restando à menina que cedeu aos seus impulsos gemer acordes entre os óculos de grandes lentes e um ventilador; gemendo chuva pra ser os pingos que regavam uma valsa sem ensaio, do lado de fora da janela.

Há muito que me esquecia de sentir prazer ao revisar a lista de descompassos percorridos por um dia.
Há muito que não me agradava ver o sorriso da insanidade posando ao meu lado na coleção de memórias congeladas.
Mas hoje e, talvez somente hoje, eu beijei esse prazer antes de adormecer...

...e se tenho alguma tristeza em mim, é por me lembrar que cultivei o seu oposto e fui feliz.

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