sábado, 18 de fevereiro de 2012

Nina-menina

Te convidaria pra ir ao shopping, cabeleireiro, cinema... coisas que eu não gosto de fazer, mas que as irmãs fazem...
Misturaria na panela leite, chocolate, manteiga, para aquele brigadeiro que eu não gosto de comer, mas que a gente divide com segredos na cozinha...
Pegaria o meu violão, ofereceria a você o seu violão, e tocaríamos horas... horas... e horas... as músicas que você gosta, que eu odeio e mesmo assim sempre te acompanho, pois na sua voz são novas, lindas e únicas músicas. Tocaríamos até que nossos dedos calejassem ou alguma corda arrebentasse.
Depois você iria pra internet, então eu ficaria lembrando de quando éramos crianças e o jardim de rosas da vovó eram as paredes da nossa casinha, nosso  labirinto particular de flores e viagens, onde qualquer coisa existia e a existência era a particularidade de qualquer flor.
Lembraria dos sequestros que fazia e te levava pra nadar na represa, você nem falava, mas conversávamos tanto!!
Lembraria das suas mil peguntas de quando se começa a crescer, da sua sede, aquele espaço imensurável dentro de uma menina que queria entender tudo o que seus olhos viam antes de medir o quanto dá pra entender ante a captação de um olhar... Lembraria de seus conflitos, tantos Deuses e física quântica... Lembraria do teu medo, tuas metas e a simplicidade dos teus prazeres... Lembraria sem orgulho das minhas respostas embriagadas na estrada, que nunca te faltaram, preenchendo as lacunas que se abriam em ti a cada minuto, segundo, milésimo, com o que eu tinha de melhor em mim, que mesmo não sendo bom, era o que podia dar...
Lembro sempre do seu sorriso, que ás vezes era triste, pois apesar das tantas cores no quadro vivo, sabia que pintavam uma obra feia e que o pintor estava cansado. Lembro sempre do seu sorriso certo, filtrando tudo o que circundava você, protegendo-a do mundo e, ás vezes, até de mim. :)
Lembro de todas as nossas fugas, e de quando te prometi um quarto na casa que teria quando ficasse adulta...
Aí eu sempre chego na parte em que você foi embora, eu fui embora e nos restou o telefone e o computador.

Menina, já és mulher. Vestida de corpo que o tempo teceu ainda vejo minha Nina-menina.
Ainda me vejo dizendo que se fiquei em terra é por você, sua mulher e sua menina.
E eu vou continuar aqui, irmã, vou estar viva sim, pra te observar crescer e ser melhor do que eu.
Nem espelho, nem guia, nem guarda-costas. Nem exemplo, nem coisa nenhuma. Só espectadora, que chora todas as vezes que a gente se encontra.

Não diga, não diga... não diga nada.
Ainda estamos juntas, sob o mesmo colchão de terra, debaixo do mesmo lençol azul.

E se sou realmente capaz de amar,
eu amo muito você.

À minha Nina.
Nina-menina.

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