Ele acordou cedo para colocar sua leitura em dia. Depois, telefonou para dizer que acreditava nela.
Seus olhos castanhos lhe contaram coisas que ela nunca tinha visto em si mesma.
Atrevido como era, pegou toda a loucura dela e fez espuma, ensaboando seus pequenos crimes para que os vissem escorrer. Compôs-lhe pequenas poesias enquanto secava o álcool de suas veias com seu hálito quente. Afiou a língua com filosofia e lhe provou que o pessimismo pode ser uma das maneiras mais belas de sobreviver.
E então ela chorou, pois já não queria mais ser menina.
Suas lágrimas molharam a terra que ele arou para que ela plantasse seus novos propósitos.
E então desligaram o telefone.
...
Ele havia lhe dado um dia, o primeiro dia de sua vida, justamente um domingo.
E ela dormiu seu primeiro sono.
E então despertou, terminou um livro, começou outro, se cansou de ler. Descalçou os sapatos e correu na chuva.
Achou graça no jeito que o seu vestido balançava com o vento. E dançou no ritmo das folhas ao som daquela música amedrontadoramente maravilhosa que assobiava em seu coração.
E quando o sol declarou sua despedida, beijando apaixonadamente a ponta das árvores, sentou-se com um copo de café para ver os passarinhos.
Curiosamente seu lugar preferido durante todos aqueles anos dava vista para a casinha onde ele morou. Começou a se lembrar dos milhares de poemas que compôs para aquela montanha e para as cores que só existiam nela. Lembrou também de quando eram crianças e da timidez dele lhe esperando calado no mata-burro, todos os dias.
Sorriu, e foi cuidar das galinhas.
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