quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Aroma, cor e música.

Adociquei o quarto com um incenso e reduzi a luz para um abajur, acalmando as cores dos objetos que já tinham sono. 
Soltei acordes de um rock antigo que tirou meus pensamentos para dançar além das portas... O sopro das hélices furiosas acariciou meu corpo feito àquela hora de aroma, cor e música.

Deitei-me com um livro e beijei uma lembrança.
Dediquei à distância meu silêncio, fechando as cortinas das minhas janelas.
Dentro das quatro paredes que represavam meu mundo, repensei nos sonhos de ontem e nas promessas do amanhã me presenteando com aquele momento onde eu e toda a minha loucura continha-se numa jaula sem grades.

Senti um beijo sensual arrepiando minha nuca, transformando-se em suor na pele encoberta pelos cabelos que se divertem enrolando-se na liberdade de viverem sobre os ombros.
É ele, meu personagem preferido saltando do livro que deixei ao lado do travesseiro pelos instantes que fui tinta de caneta por páginas em branco.
É ele, sabendo que não nego seu convite para estar sozinha, à dois...

...e subimos a montanha.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Enquanto espero...

Coletando palavras pelas esquinas, vou sendo sugada pelas dobras da rotina.
Combinando sensações e brincando com os sentidos, sucumbindo ao cansaço e flutuando pelos furacões.
Vou indo assim... ruminando meu dia, cozinhando alguma poesia, encaixando-a num envelope que embrulho e guardo para um alguém. Ou talvez para ninguém.
E então aquela promessa tempera meu jantar, alimentando-me após um dia que percorri tentando esquecer que não habito mais meu corpo, que já estou numa estrada que você desenhou, na poltrona vazia ao seu lado, vindo a mim com você, girando nos rolamentos de um ônibus que se locomove apenas nos meus pensamentos...

domingo, 11 de dezembro de 2011

Só um beijo...

O horizonte pega fogo, sob a vigília da primeira estrela.
Ela é um solitário ponto de luz esbranquiçado, à reger uma orquestra de vermelhos derramadores de silêncio pelas beiradas de um céu que arde quando beija a terra.
Estamos sozinhas, a estrela e eu, cada qual em seu poente.
Esperamos a lua, a estrela e eu, numa ânsia adjacente.
Ambas esperamos um amor, mesmo que um amor platônico, para trazer as cores omitidas por um manto que enegreceu terra e corações.
Ambas assistimos àquele beijo, guardando nossos lábios para a incerteza de sermos enfim beijadas;


Guardando nossas cores e apagando por dentro.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Por trás dos girassóis...

Acordei e no primeiro piscar das pálpebras saboreei a carta de alforria que pousara em minhas mãos após a última noite de avaliações institucionais das releituras estudantis do mundo. Então bebi do sol, me vesti de nuvens, descartei planos para o almoço, esqueci o celular, o relógio, os livros e as listras das minhas meias sujas, jogadas no canto do quarto. Esqueci do que me ensinaram a nunca deixar de lembrar, sorri sem confessar meus dentes e beijei a sagrada dose de café que me espera todas as manhãs no mesmo buteco.

Naveguei pelos ribeirões de piche, pegando carona nos rolamentos mecânicos dos navios que percorrem as praias intraurbanas em todas as direções, escancarando a preponderância econômica nas edificações das suas areias. Pelas janelas avistava a economia administrativa das minhas próprias poesias, que pelos meus olhos colhe as palavras no sistema de engrenagens orgânicas impulsionado por um vento que ignora a meteorologia e passa a assoprar pelos interesses sobrenaturais do capital. O papel para transcrevê-la é pautado pelas regras desse mesmo sistema que me ensinou a simplificar o mundo entre o belo e o feio e poetizar rapidamente apenas o que é belo. E já que não encontro a saída de emergência dessa grande nave que me carrega atrelada a essa transvaloração dos valores, peço parada ao motorista e salto para cima de um muro de onde posso admirar os brotos das contra-ideologias anti-hegemônicas plantados entre as árvores e nascentes, pelas mãos dos duendes de jardim que me sorriem embarreados e cheirando a protetor solar.

Transponho o muro e me abrigo entre as cortinas do camarim que me permite assumir as vestes desgarradas de um modismo contemporâneo e me traz um novo sorriso ao interpretar o meu papel social favorito. Aceito a cobertura do creme vendido sob a promessa de proteção anti-raios violeta e finalmente despejo-me junto à base branca que se mistura aos pigmentos para conceber as cores aspiradas pelo plano da imaginação.

O sol vem prometendo seu calor e a luz que vence a delicadeza das nuvens, condescendido pelos miseráveis espectadores que estarão de mãos dadas naquele refúgio intra-urbano até o poente.
Atrás dos pincéis e de cada pingo de cor pela pele e roupa, a menina e seus segredos brincam entre girassóis tão solitários e sorridentes quanto ela.