domingo, 14 de outubro de 2012

Porque você não veio.



Sentei para fumar um cigarro em frente à Montanha Oeste, logo após ela vestir seu pijama de sombras..
Sentei assim que eles se foram, tragando as despedidas que me faziam imaginar você e eu ali, fumando dois cigarros, enquanto a montanha sonolenta vigia nosso silêncio...
A brasa solitária esperou o fumo chegar ao fim e as últimas faíscas brilhantes adormecerem na sola do meu sapato; as despedias me fizeram ver que você poderia ter se despedido de mim,
e eu poderia ter te oferecido um pedaço de bolo quente, mas não... não me despedi.

Porque você não veio.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Eu tenho as minhas idéias.

Todo dia é dia para descobrir que você foi um grande idiota.
E toda madrugada sabe ser simpática!

E a gente passa o dia deliberando pelo menos uma porção de vezes sobre uma porção de coisas elevadas ao quadrado...
Nunca vi uma listinha com jeitos diferentes de morrer...

.
Eu tenho as minhas idéias.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

outro ninguém.


Hoje talvez o nariz sangre, porque o mundo está seco demais.
Talvez eu deite à minha frente e inale meu próprio cansaço, pois estar cansada é só mais um pretexto pra 'deitar'...
Hoje talvez eu pulse debaixo da lua e espalhe o seu vestido de pó branco,
pra assistir aos cabelos que pegaram fogo quando os pensamentos em atrito
correram frenéticos...
e correram de mim...
e correram pra ninguém.
E se eu grito?
São os livros de poesia abertos sobre a mesa, vomitando veneno sem gosto.
E se eu ando na velocidade oposta?
São os minutos que se negam a adormecer, costurados a outras tantas noites feitas para não dormir...
...e vou me afastando de tudo, 
inflada com tanto e tanto vazio...
...dos segredos que guardo quando como papel...
e me escondo dentro de mim.
Querendo a negação da minha própria tese,
e sendo outro ninguém.

A dor na cabeça já faz parte do corpo e o corpo perdeu seu botão de 'off'...

Certa ou errada?
Só definhando...
Enquanto minha carne engorda na sombra do que eu poderia ter escolhido ser.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Lua de prata

Ela chegou molhada de prata.
Nem queijo, nem mel;
Prata.
Espreguiçou-se pelo lençol róseo, queimado de azul incandescente nas beiradas.
Então, sorriu.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Fandangos

Ao sentar na escada e ajeitar a boina, molhei os dedos no cabelo de final de dia. A lua sorriu.
Os solitários são realmente tristes, quando é a depressão que os leva a sentar na escadaria central do supermercado 24 horas para observar os movimentos mundanos desperdiçados por não haver quem sente na escada e os rumine?
O que me dizem dos felizes que gastam sorrisos pelo impulso da suposta boa educação sussurrada por uma moral falida?
Eles estão ocupados com suas felicidades e não sentam em escadas... E não vêem o mundo passar...
As mulheres com seus filhos escolhendo agasalhos na caixa de doação são ignorados, como as crianças roubando Fandangos ou a atendente atenciosa. As larvas na folha do hortelã mal lavado para o chá e o sol que brincou de escorrer em rosas pelas beiradas de um céu que existe à toa também não é coisa de gente feliz notar.
Será que a 'depressão' realmente se alia a solidão e nos isola do mundo?
Ou confundiram os nomes no dicionário que dita a vida e solidão é apenas uma forma de conexão, enquanto estar deprimido nada mais é do que estar sensível à vida.

Ontem alguém me perguntou se eu gosto de ficar sozinha.
Eu gosto.
Quando posso escolher estar.


sexta-feira, 8 de junho de 2012

Outro final.


Um parto. Uma ruptura. Um nunca que não se conhece até a morte do sempre.

O silêncio que fala, que grita!.
A dor física de causa emocional.
Uma última página virada.
Outro final.
...

O nunca mais, que desliza pelas composições léxicas corriqueiras...
E os muitos termos que escorrem de lábios desconexos dos reais significados no ato de falar.
Os tantos e os tantos fazem vomitados pela necessidade do homem de emitir sons, vocalizar.

.O que realmente queremos dizer?

.O que diríamos antes da última chance de tocar ao outro como o dom da comunicação?

Vulgar... Desperdiçada.

Morreríamos sem saber.
Morremos.
E nunca falamos.
















domingo, 27 de maio de 2012

Uma desconexão dicotômica

Os vejo rodopiar sobre meu dia quando deveriam sujeitar-se aos meus compromissos,
quando deveria ser eu a escorregar sobre os dois,
que desnorteiam meus labirintos,
guardados no bolso do corpo, regendo a labirintite incoerente de quem se permite à neurose de arrumar seus espaços físicos,
desarrumando a mente, gavetas mentais...
Sabedorias maternas à parte, fujo à regra da organização dos pensamentos ao organizar as tantas coisas e coisas que nós homens somos capazes de armazenar temporariamente (possuir?) ...
Fujo às regras mãe, mamãe, me perdoe por isso também (ao menos meu quarto está sempre impecável).

Brindo à lucidez,
à insobriedade...
Brindo minhas decisões sem parâmetros que logo serão substituídas pelo seu oposto,
brindo às emoções e à liberdade do nexo que já havia abandonado o cargo de conduzir nosso mundo,
que perdeu seu sentido existencial ao começar verdadeiramente a existir.
(nexo?)
Brindo aos olhos daquele cara à caráter de seus papeis sociais,
quando ele fala que é um alienado feliz, assiste tv, vomita nas entrelinhas, sente saudades de seu relógio de bolso,
e me atira pelas janelas azuis...
Brindo ao brinde dele que foi juiz no altar da minha paixão pelo surrealismo filosófico,
que me apunhala com os sorrisos de quem não confessou os segredos do conjugue sedento pelo "sim, aceito"...

É... Entornei o copo raso do elixir de minha bílis mental, ácida e tão doce,
quando percebi que nada no mundo faz sentido além dos manuais de filosofia para destruir toda a cultura animal...
Me embriaguei ao ver que os padrões de normalidade obedecem aos interesses do sistema econômico. (humano?)
E escolhi estar narcotizada ao lado dos sãos, porque a sanidade é subjetiva.
Comigo?
Apenas minha mente (as vias de comunicação virtuais mortas),
conectada a um papel que não toco, na tela do computador que decidi me conectar em busca de desconexão.
O sentido das palavras assume significados relativos às tantas ideologias que vem ditando as cores das paisagens captadas pelos sensores atrofiados...
Eu?
Num gozo que permite a comunicação da minha mente nesse monólogo.
Eu?
Cansada de boiar nos meus conflitos particulares,
afogar o super-homem nas minhas lágrimas e vê-lo do portão levando um pouco da angústia que era minha.

Sou menina,
menina do mundo.
Sou a mente querendo ser balão e voar livre do envólucro de carne integrado aos passos de uma sociedade falida com a qual não quero dançar...
Mas qual será meu fim (além de sozinha)?
Seguirei Zaratustra...
Ou chegará o dia em que aceitarei o uniforme e assinarei contrato?
Par ser também uma alienada (só não prometo feliz).


Não dispenso mais sorrisos às manhãs, é verdade.
A luz que escapa entre os dentes se apagou e minha janela está fechada...
Mas mesmo andando no escuro, prometo chego até os vinte e sete anos para lembrar do que me disse.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Há pouco na esquina senti o cheiro de merda.
Meu corpo era inodoro.
Mas a merda da esquina,
era eu.

Sozinha, mesmo fisicamente acompanhada,
eu, sozinha.

Supermercado 24 h

Ás vezes a gente encontra o que deseja nas prateleiras do supermercado
Ás vezes nosso desejo é só o encontro com as prateleiras cheias de coisas
Ás vezes as prateleiras acomodam os desejos que não são nossos e as coisas que cabem no engano de um desejo qualquer
Ás vezes o que queremos é apenas encorporar qualquer desejo
Que descubra o vazio
...e estufe.

Nenhuma prateleira satisfez meu desejo
e fui embora após vender minhas solidão de tantas coisas.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Castelo de sorrisos

Desaguando na calçada
contive os olhos para não molhar a rua...
O portão às minhas costas,
nem se despediu ao ficar para trás...
E aquele banco não me cumprimentou quando sentei, abri o caderno e derramei as lagrimas contidas em forma de tinta...
São os "tantos"
para os quais quero acenar quando conseguir estar longe...
Longe... junto à saudade
No meu castelo de sorrisos,
amando o rei e as janelas que me ofertam o horizonte


segunda-feira, 30 de abril de 2012

É preciso que tudo acabe...

...para que possamos entender?

E então ele disse,
que precisamos esperar que o fim chegue, para podermos entender.
É como se despir de emoção e nu, racionar.
Ser razão, sabendo que há neurônios no nosso coração?


Essa madrugada a terra foi platéia de onde quatro olhos sem sono contemplavam a beleza gratuita que embala àqueles que se escondem nos lençóis.
Essa madrugada o vento regeu um espetáculo nas nuvens que transpunham-se umas às outras, fazendo do céu um quadro dinâmico de cor, forma e magia.
E os dois estavam ali, ouvindo o silêncio que confessa as respostas negadas pela emoção ou a razão.
Estavam pois não sabiam em quantas partes pode-se dividir o que não se tem.
Estavam pois percebiam em si várias faces de uma mesma sensação descritível pela mera indiscrição.
Pois o que aquecia seus corpos no frio de uma madrugada sem estrelas era justamente o que não conseguiam segurar nas mãos nem transportar com palavras.
Então reteram nos olhos,
Transmitiram pelas mãos,
Alimentaram nos beijos,
Doaram no suor,
E entenderam ao cessar das dúvidas,
para o ato de fazer amor.


sexta-feira, 27 de abril de 2012

Olhos e foco

Se eu fosse escrever uma carta,
sobre o que discorreria?

As quatrocentas mudas que plantamos,
ou aquilo que me espera no camarim de minhas atuações sociais?
O passado, a tendinite, preferências literárias ou brigas matutinas com o espelho?
O tempo perdido?
Isso já não importa
Ao ver brotos verdes,
fechar o ouvidos,
beijar com paixão,
contemplar um poente...
Ganho de volta todo esse tempo
Nos sorriso de quem educo,
nas moedas que troco por sorvetes antes da aula,
nas coincidências perfeitamente encaixadas,
nos chocolates durante a TPM...
Na imersão aos livros que transformam o cenário ao redor,
na consciência política coletiva,
nos sonhos que ninguém vê,
nas vozes que só eu escuto,
na mágica entre tinta e papel,
olhos e foco,
vontade e satisfação.

sábado, 7 de abril de 2012

Sensações de botequim

Quando soube sobre meu nunca,
transcrevi-o aqui (páginas descoladas de um livro sem lugar nas prateleiras) !!

Te perguntei, enquanto atravessávamos uma nuvem de fumaça dentro do nosso Zeppelin, pelas voltas do vinil naquela vitrola no canto do boteco...
Te perguntei agarrada ao que me restou de lucidez, pra que reescrevesse em mim aquelas linhas opacas no papel da minha vida, as que eu nunca consigo ler...

Te perguntei, borboleta, quando entre os copos desfilavam filosofias sentimentais,
quando entre as tantas de mim não palpava nenhuma, sentimento nenhum,
e eu era uma mistura de "nadas" e "nuncas".


Meu nunca...
Meu nunca que é ao mesmo tempo meu tanto.
Meu é. E meu foi.
Meu tudo, que destrinchado não resta nada (nada!).
Meu nada, que volta a ser meu tudo.
Minha mistura,
só eu.

Te perguntei, sim, pois eu quis conhecer e nomear um sentimento novo,
pra guardar dentro do livro e colocar o livro no lugar certo na estante...

Te perguntei, 
quando percebi que tudo o que senti até agora foram apenas "sensações"...


E sem resposta fiquei entre os copos, vinis, numa escadaria envolta pela nuvem de fumaça.

domingo, 1 de abril de 2012

Máscara

Ás vezes vem,
e minhas janelas abertas não impedem de entrar.
Ás vezes dói,
e por ser carne não me isento de sentir.

Tenho livros!, tantos quanto possa ler e muitos que ainda não li!
Ouço músicas (2+2=5, Radiohead) e tenho dedos pra pari-las em meio às cordas do meu violão...
Na luz eles me enxergam...
Então é só na tua sombra que eu me exponho (pois me vê sem teus olhos e sou cega também).

Ás vezes o que me afoga são as poesias que transbordam de meus cadernos, jogados pelos cantos do quarto.
Ás vezes são as fotos que eu repasso, as lembranças que pinicam escondidas na roupa da cama.
Ás vezes é só aquele gole a mais que desejei e que eu evitei, 
por ser mais fraca, por ter medo (de mim!?)...
Ás vezes é cravar fundo demais o punhal, devorar com apetite demais, pra compensar o sangue seco, a inanição!

Mas ás vezes é só um domingo que esboça a promessa de um sol que acabou de se despedir,
e que voltará para preencher os contornos da menina,
que ás vezes (só ás vezes) está cansada de se lembrar do cansaço.

"Você é tão sonhador?
Para colocar o mundo em ordem?
Vou ficar em casa para sempre
Onde dois e dois sempre
torna-se cinco"


"Vá e conte ao rei que o céu está desabando"


Sim... eternamente melancólica e sem rosto, 
frente a uma folha em branco.


Aquele era apenas meu caminho, passos secos pelo concreto.
Aquela era exata a mesma rota, sob a vigília dos astros despertos.


Pés no chão, perseguia uma lua e uma estrela que eu via.
Embrulhando-as na minha memória mecânica, pra te dar quando a noite engoliu o dia.



quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Numa tal realidade alternativa...


Às quatro da madrugada as plantas em seus vasos me convidaram para uma conversa na cozinha. Servi-as de água e me afoguei novamente na inconsciência agasalhada por lençol e travesseiros.
Eis que ele me sacode, religiosamente no mesmo horário, vibrando melodias pelo quarto. Se falasse, gritaria meu nome em tom íntimo e intimidador, na prenuncia de um discurso motivacional, recheado de frases de incentivo cuidadosamente articuladas aos proles. Mas felizmente (ufa!) ele não fala, restando apenas a canção que escolhi pra me lembrar que há um engenhoso retângulo devorador de minutos pregado à parede de entrada da instituição que retém minha fidelidade por um pacto de sangue e suor (tudo bem, eles também possuem minha assinatura num tal papel chamado de "contrato trabalhista", tsc), esperando a penetração do meu cartão de ponto em seu interior. Acordei, saltei, plantei mudas e sorrisos, dancei com rodos e vassouras e terminei no fogão, misturando na panela sonho e fibra, pra que meu lado orgânico continuasse a sustentar a coreografia desses dias dançantes.

Numa tal realidade alternativa ganhei uma pilha de revistinhas com cifras para violão com rock dos anos 70, 80, e 90 do meu patrão e minha melhor amiga me pediu para comprar um sapo azul num petshop e levar pra ela... (Tá, não tinha como seu pedido não entrar no meu blog, rs, afinal, não é todo dia que alguém te encomenda pelo telefone um sapo azul e diz que já está arrumando o terreiro pra ele!!)

Hum... Confesso que hoje caminhei a procura do medo que se perdeu nalguma esquina ontem a noite, mas não o encontrei (...danado! Onde será que se meteu!?), então eis-me comendo lenta e quase liturgicamente um chocolate (alpino, ganhado, duplamente mais saboroso) e estimulando minhas ações vitais (vulgo orgasmo, no sentido literal,rs) enquanto ouço Tears for Fears!
Casa limpa, barriga cheia, humor bom, apetite por oxigênio!

Neguei uma oferta do emprego dos meus sonhos (!!) e me esqueci de parar de sonhar...

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Discurso filosófico da sibila anti-comunhão (...)

A estrada me desloca, enquanto ela e eu permanecemos estáticas. Quem se desloca então, pela estrada e à meu favor, é o automóvel coletivo interurbano de seis pneus e quarenta e cinco lugares.
Deslocam-se também alguns pensamentos, regendo a orquestra muda de razão e emoções.
Acordei, e mergulhei na minha consciência racional -sim! aquela que me afasta das pessoas... e as águas frias pararam toda a música, congelaram a sincroniza do meu coração e me jogaram numa crise existencial que sucumbo quase semanalmente, com a qual gosto de brincar, seduzida por suas voluptuosas ironias, seu prazeres gélidos, doloridos, sua dor nos músculos congelados que estão isentos de sensibilidade... dor (?)
Eis-me filosofa da minha própria vida, encontrando e assumindo o medo de me afastar da cômoda e carinhosa solidão.

Não. Ainda não sei de nada.

À Li, 
(por aguentar  meus desabafos melancólicos e recauchutar meu teto para suportar as tempestades que eu mesma crio)



Nota final: Deixei o celular em cima da mesa ritualisticamente e subi a avenida, longos quarteirões até o supermercado 24h, enquanto o sol se despedia do feriado doando ouro aos seus fiéis espectadores desatentos. 
Hum... semana passada parei pra chorar na sessão de chocolates, hoje esqueci várias coisas (o que era óbvio), mas trouxe comigo os seis pacotinhos de miojo sem lágrimas, imprescindíveis à minha própria sub-existência uns dias sem mamãe em casa.
Estou superando minhas crises de terça-feira!!rs

Vou fazer miojo pra hoje e bolo pra amanhã!!

Pela proteína dos meus olhos ... um alguém além de mim.

Comi esfirra de carne, para dar mais proteína às minhas filosofias.
Comi para continuar sendo carne, perdurar a matéria e, intelectual e orgânica, poder filosofar...
Quero seu carinho e ainda não sei se quero você, se quero alguém...
Alguém?
Alguém além de mim...

Essa noite eram somente minha cama, eu e o relógio que me proíbe de sonhar antes das duas da manhã.
Essa noite era somente outra noite em meu triângulo amoroso, rolando na cama enquanto as horas rolavam sobre mim.
E te coloquei pra dormir, antes do sono, pra que eu amanhecesse sozinha. Para que acordasse e afastasse as cortinas do teu carinho e enxergasse por mim, pela proteína dos meus olhos, pelo Ser no Ente de carne e emoção.
O Ente que chama de seu, e "acarinha" em meio aos gritos do Ser que não quer pertencer, mas que eu te daria... se fosse surda!

Eu vinha seca, e amoleci quando derramou todo o carinho que já esperava um alguém pra dedicar.
E derreti. E dissoluta vi, menino-homem com quem adoro estar, que eu esperava carinho também quando o seu tocou em  mim. Vi, senti-o e me confundi.
Pois não o quero só por já o estar esperando, carinho qualquer.
Não o quero porque você esperava pronto para doar, a um alguém qualquer.

Quero saber aceitar seu carinho porque é seu, vem de ti, pois é você e não carinho.
Quero que me dê o que é seu (meu), feito pra mim (por ti), não porque fui quem apareceu na sua vida, mas porque sou eu à aceitá-lo agora.

"Ahh, esfirra de carne!
Quem dera antes de comê-la eu pudesse lhe perguntar como fora a sua vida de carne antes de ser morta, moída e envolvida pela massa..."

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Coragem

Mesmo quando é feio, você expõe, da alma pra pele.
E quando é bonito, tamanha beleza liquidifica a feiura, transformando-a em adubo aos novos brotos, da pele pra alma.

Essa força que veste de fraqueza me admira;
os adornos não a ocultam.
O mel cristalizado pelo tempo, apesar de áspero, ainda é doce.


És cru, natureza bruta.
És pele e alma, sensibilidade sobrenatural.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

De outros carnavais...

Não preciso me vestir de fantasia, pois seu olhar atravessa panos, carnes, cabelo e emoção.
Não preciso pintar sorrisos em minhas máscaras, pois você procura a força motriz das minhas artes, sabendo que pincéis são apenas pontes por onde viajam as cores.

Você me surpreendeu, quando falava montado de sua lua sobre o sol que ilumina minhas montanhas, onde sobrevoa um Zeppelin. Debaixo do seu chapéu, você me surpreendeu ao se apaixonar pelos demônios que eu vestia de fadas. E eu calei todos os contos.

Sou boa em calar, então sorri meu verdadeiro sorriso e dancei.
Enquanto você fazia da noite palco pra dois corações baterem em um pelas ruas e das ruas pretexto pro ritmo dos que queriam continuar a compôr passos nas partituras de piche.
A música? Sim, já a conhecíamos, de outros carnavais...

...e a melhor parte desse sonho é quando eu acordo e continuo a sonhar!

Nina-menina

Te convidaria pra ir ao shopping, cabeleireiro, cinema... coisas que eu não gosto de fazer, mas que as irmãs fazem...
Misturaria na panela leite, chocolate, manteiga, para aquele brigadeiro que eu não gosto de comer, mas que a gente divide com segredos na cozinha...
Pegaria o meu violão, ofereceria a você o seu violão, e tocaríamos horas... horas... e horas... as músicas que você gosta, que eu odeio e mesmo assim sempre te acompanho, pois na sua voz são novas, lindas e únicas músicas. Tocaríamos até que nossos dedos calejassem ou alguma corda arrebentasse.
Depois você iria pra internet, então eu ficaria lembrando de quando éramos crianças e o jardim de rosas da vovó eram as paredes da nossa casinha, nosso  labirinto particular de flores e viagens, onde qualquer coisa existia e a existência era a particularidade de qualquer flor.
Lembraria dos sequestros que fazia e te levava pra nadar na represa, você nem falava, mas conversávamos tanto!!
Lembraria das suas mil peguntas de quando se começa a crescer, da sua sede, aquele espaço imensurável dentro de uma menina que queria entender tudo o que seus olhos viam antes de medir o quanto dá pra entender ante a captação de um olhar... Lembraria de seus conflitos, tantos Deuses e física quântica... Lembraria do teu medo, tuas metas e a simplicidade dos teus prazeres... Lembraria sem orgulho das minhas respostas embriagadas na estrada, que nunca te faltaram, preenchendo as lacunas que se abriam em ti a cada minuto, segundo, milésimo, com o que eu tinha de melhor em mim, que mesmo não sendo bom, era o que podia dar...
Lembro sempre do seu sorriso, que ás vezes era triste, pois apesar das tantas cores no quadro vivo, sabia que pintavam uma obra feia e que o pintor estava cansado. Lembro sempre do seu sorriso certo, filtrando tudo o que circundava você, protegendo-a do mundo e, ás vezes, até de mim. :)
Lembro de todas as nossas fugas, e de quando te prometi um quarto na casa que teria quando ficasse adulta...
Aí eu sempre chego na parte em que você foi embora, eu fui embora e nos restou o telefone e o computador.

Menina, já és mulher. Vestida de corpo que o tempo teceu ainda vejo minha Nina-menina.
Ainda me vejo dizendo que se fiquei em terra é por você, sua mulher e sua menina.
E eu vou continuar aqui, irmã, vou estar viva sim, pra te observar crescer e ser melhor do que eu.
Nem espelho, nem guia, nem guarda-costas. Nem exemplo, nem coisa nenhuma. Só espectadora, que chora todas as vezes que a gente se encontra.

Não diga, não diga... não diga nada.
Ainda estamos juntas, sob o mesmo colchão de terra, debaixo do mesmo lençol azul.

E se sou realmente capaz de amar,
eu amo muito você.

À minha Nina.
Nina-menina.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Toda a companhia

Como  o chocolate que guardei, intocado, pra namorar quando no meu quarto só restasse a saudade e eu.
Como a mensagem breve, que li aos pedaços, encaixando nos intervalos o medo do final da linha.
Como a vontade de convidá-lo pra comer um cachorro-quente, que embrulhei e escondi no bolso, levando comigo quando saí sozinha.

Porque eu queria aos poucos,
do pouco eu queria tudo
e não queria o fim.


Quando chegou, minha janela não tinha cortinas,
e mesmo sem ser nada, era toda a companhia que cabia em mim.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Dia nenhum

Na ausência de boca beijei o copo.
No silêncio de um Deus qualquer foi o café que espantou minha melancolia.
E se eu não deveria ter acordado quando o sol me chamou,
cumprimento a lua, a rua,
e me recuso a adormecer...

Pois meu perfume inebria a merda!!

domingo, 22 de janeiro de 2012

Chuva de verão

Sentei atrás das flores que, serenas, observavam a chuva beijar o quintal.
Atrás de meus olhos sentou-se a lembrança da poeira que o ventilador assoprou, da morte que ela cumprimentou e adiou e da cama de um alguém onde caí mais uma vez.
Sim, estivemos à espera da torta de queijo no sentido literal, servindo seus pedaços de pretexto às quatro e meia da manhã, em forma de sobremesa que complementa o desejo de esperar um pouco mais.

Cerrava e abria as pálpebras, testando minhas realidade e ficção. Me via nas gotas de suor que transformavam suas costas em diamante e depois escorregavam pela cachoeira seca dos olhos duma alcoviteira que enterra sua melhor amiga.
Liquefiz para solidificar e não chorar por ela.
Solidifiquei para armar meus lábios e sorrir para você.

E sento atrás das flores, repassando idéias, observando o tempo, saudando os amigos, almejando aromas e contabilizando minutos, depois de uma chuva de verão...

domingo, 15 de janeiro de 2012

à.

Queria ser carinho, acidental ou à convite, em qualquer mão capaz de alcançar tua pele
Ou então balbúcia, que se fizesse ouvir por filosofia ou retórica boêmia te envolvendo mesmo que por educação
Queria ser corda de violão, baqueta, vulneráveis aos seus dedos e abandonados pelo descaso do final da noite que você descarta
Poderia ser o banco da praça que te acolhe, um vento à cumprimentá-lo ou uma estrela com a qual você conversa da laje
Poderia ser parede do teu quarto, lençol, papel, teu garfo...
Poderia ser seu shampoo, a escova de dente, os dentes da chave, a chave pra qualquer porta emperrada
Poderia ser passarinho, fada, e pousar no parapeito da janela que se abre para um céu de concreto


Mas resumo-me à insignificância de ser apenas alguém que poetiza suas vontades, para torná-las suportáveis, entendendo-as como vontades apenas, aceitando-as amargas ao descerem goela abaixo, e engolindo-as mesmo assim...

Pois eis que estou em mão nenhuma, não tenho boca. Meu corpo não permite música, não se desmaterializa, nem emana luz imprópria de astro. Não sou cosmético, utensílio, envólucro. Não tenho asa, tampouco fantasia.
Só lhe respondo ao acaso, quando você fecha os olhos e me chama na inconsciência dos nossos sonhos em comum.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Dread de laranja

Mergulhei num copo de suco de laranja, quando a fruta das mãos de uma pequena incerteza escorregou, num ato improvisado.

Alguém bagunçou meu cabelo, dedilhando-o como nylon de violão.
E eu permiti ser silêncio àqueles dedos que sincronizavam sua música às batidas do meu coração.
Fui partitura em branco, acomodada no parapeito de um conflito, observando a desarmonia daquela vontade que deixei na cama com um livro... observando o violeiro e o meu violão.
Então liquifiz uma ironia sorridente, para bebê-la junto ao veneno que exprimimos no abandono de uma razão, que talvez nunca tenha chegado a ser mais que uma intenção de racionalizar ou uma fantasia de moral tecida pela culpa da amoralidade.
Enfim, já não havia mais silêncio como qual eu pudesse me vestir, restando à menina que cedeu aos seus impulsos gemer acordes entre os óculos de grandes lentes e um ventilador; gemendo chuva pra ser os pingos que regavam uma valsa sem ensaio, do lado de fora da janela.

Há muito que me esquecia de sentir prazer ao revisar a lista de descompassos percorridos por um dia.
Há muito que não me agradava ver o sorriso da insanidade posando ao meu lado na coleção de memórias congeladas.
Mas hoje e, talvez somente hoje, eu beijei esse prazer antes de adormecer...

...e se tenho alguma tristeza em mim, é por me lembrar que cultivei o seu oposto e fui feliz.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Um beijo tempestuoso

É sábado a noite, por volta de dez horas... Com vinte e dois anos e uma lua gorda iluminando várias possibilidades, eu deveria estar pelas ruas compartilhando calor humano... Mas eis-me de camiseta e meias, despenteada, debruçada na cama em um quarto pequeno de uma casa no meio do mato! Eis-me divertida na companhia de uma caneta, um caderno e o vento que faz ranger a dobradiça velha da janela que deixei aberta para que a lua pudesse me observar.
Ouço-o brincar com a folhagem, empurrar a janela... vejo que ele se diverte com a simplicidade de ser vento... E vejo, enquanto isso, que eu me divirto também com a complexidade de ser gente...
Acabei de deixar meus amigos em suas casas, após um breve sequestro para assistirmos um pôr-do-sol do ponto mais alto da cidade.
Convidei um segredo e corremos juntos quando uma força estranha me expeliu do cume da montanha, estrada a baixo...
É aquela vontade de perseguir o sol quando ele ameaça se esconder atrás do horizonte... a vontade de abandonar as sandálias e correr mais rápido ainda, como um grão de areia ao vento, como raio de luz, como parte do poente que suplica para não ser deixado ali.
Saí com meu vestido céu de nuvem e dancei descalça no barro para tentar chamar a atenção das transeuntes do azul, mas elas continuavam a passear indiferentes à menina maluca explodindo de energia no chão...

Daquele lado as nuvens eram claras, mas migrando o olhar um pouco para a esquerda do poente, atravessando a pequena cidade que podia ser vista inteira daquele ponto e chegando às montanhas do outro lado do vale, uma tempestade azulada ameaçava molhar as casas e assim explodir sobre nossas cabeças, violentamente. Raios chicoteavam os corações que temiam a força incontrolável da natureza e desejavam despedir-se da montanha. A menina ria e seu coração ansiava pela adrenalina que a tormenta despejava nele... Alguns precisam de drogas para liberar emoções que desaprendemos a criar sóbrios. Ri dos meus amigos e disse pra trocarem uma cápsula de pó branco pela poeira que uma tempestade levanta... O risco de morte é igual, e se for realmente pra escolher, não parece mais interessante morrer eletrocutada por raios de trovão?rs... Eles riram também, e ficamos, sóbrios.
E então ele derramava os últimos goles daquele laranja-dourado que não existe em nenhuma paleta de cores dos artistas de carne, quando ela apareceu no lado oposto, assumindo o céu que agora se renderia ao seu reinado.


Os amigos que pisavam no chão curvaram-se embaixo daquele romance exposto no lençol multicolorido e abrigaram, por um momento, o sol e a lua na palma de suas mãos.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Strange days...

A solidão nos faz parecer tão idiotas.. e nossa idiotice se torna tão poética!
Mas a poesia ao se ver solitária se transforma em patética.
E ser patético pra um poeta é nada mais do ser inocente...
Mas hoje eu nego a inocência,
e assumo o papel de idiota.

...se a vida é uma bosta,
eu cago poesia!

"pro monte"

Esperando pelo sol...

Espero pelo sol que insiste em se esconder de mim...
E se houvesse alguém a me esperar, eu chegaria antes do sol
Para que as esperas se somassem num grito pela luz que se esqueceu de lhes iluminar
E ao escutar esse grito, a luz viesse, apenas para estar de passagem
E quando fosse embora não fizesse falta.
Porque alguém chegou primeiro
E roubou o escuro.
...
Por mais luz que haja no céu,
meu teto permanece sem cor.
Ao meu lado?
Ainda sorri a solidão...