domingo, 1 de dezembro de 2019

01/08/2019 - Ser

A rotina se misturou e eu era muito mais de duas
Passei a dormir com listas inconcluídas de tarefas que não planejei executar
O cansaço e o menino eram tão grandes em mim que me atrapalhavam o sono
E eu só queria me dividir um pouquinho, ser mais uma além daquelas com que já havia me acostumado
Pensava nele e no filho o dia todo, rindo de minha própria redundância
Queria o calor além das palavras
Queria tocá-lo, amar
E ser


02/09/2019 - Transição

Fiz vigília para a noite chuvosa.
Sufocada no meu quarto limpo
lembrando do tempo em que escrevia embriagada
Administrando o destempero dela e minha coleção de conquistas, visto minha calcinha do Romer pra cozinhar
Liguei o rádio para pensar
Era coisa demais.

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Vitória

E debaixo da manta que aquecia nossos corpos trêmulos de adrenalina e da perda de sangue, escondi nossas cabeças daquela sala branca pra surrurrar: "conseguimos, meu amor!"
E aquela foi a primeira coisa que fizemos juntos.
Ele estava ali, mas eu não o conhecia. Segurou meu dedo sem  me reconhecer também.
Não haveria como alguém tirar de nós o mérito daquela vitória.


...
Se eu pudesse dar um conselho para todas as mulheres diria: tenham um parto vaginal!

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Dilúvios Infantis

Nunca sei por onde começo quando eu preciso cuspir
E hoje silenciar os romances melódicos que se propagavam pela casa me pareceu um bom começo
Apaguei as luzes e a liberdade da cachorra se combinou com o meu direito de adorar seu latido
Minha cabeça doía de tanto pensar pelo estômago
E o preço da minha liberdade era enfim continuar decidindo tudo sozinha
e me lembrar  de nunca mais esquecer de fingir que eu não surto
Afinal, eu só quero paz

Eu pensava substancialmente nele e na forma como sonhou comigo, conhecendo apenas minhas letras e o volume que carregava na barriga
Sentia raiva e vontade de deitar junto pra ler toda vez que o dia acabava
Não sabia se cortava aquele mal pela raiz ou pegava um ônibus e o beijava na saída do trabalho
Mas duvidava se aquilo podia ser bom, já que eu não era mais minha tampouco poderia sair por aí me doando
E mesmo assim eu me sentia só e isenta do direito de satisfazer minhas vontades
E achava toda noite que minha cama era muito fria
E que eu já deveria ter me apaixonado pelo frio
pra parar de me entregar a esses dilúvios infantis

terça-feira, 30 de julho de 2019

O silêncio da minha voz

O dia amanheceu cinzento
e meu coração perdeu o sono
Não sabia se havia feira ou se meu conjunto de cordas vocais seria útil
Meu estômago cantava suas prioridades,
enquanto eu ponderava sobre o molho da roupa
Os vizinhos se demoraram pra ocupar a rua
E apenas as plantas sorriam, refrescadas no meu quintal
Imaginei mais alguém pela casa,
que eu pudesse convidar pra dividir outro acúmulo de horas entre os cobertores,
Mas sempre me lembro que a escolha de viver entre roseiras e solidões foi apenas minha

https://www.youtube.com/watch?v=Fm0eVz5tRJc

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Esperança silenciosa

Veio com a noite, instantes depois de eu ter rasgado aquele bilhete que me vigiava da cabeceira da cama
Bateu na porta do estômago com uma violência prazerosa
Eu tinha tempo para escolher minhas roupas então me vesti de inesperado e  o convidei para revirar minha cama
Quebramos todas as convicções moralistas que costumava pentear meu cabelo antes de sua chegada
E então permaneci acordada, esperando o dia atravessar o vidro da janela que manchados enquanto alguma esperança silenciosa tiquetaqueava pelo cômodo isento de calor...

domingo, 23 de junho de 2019

Azia

Não cumpri nenhum dos meus propósitos para o final de semana
E continuei procurando vocês nos esconderijos de minhas nostalgias
Chorei, como era de se esperar
Fugi dos encontros,
Quis colo de mãe,
Um buraco bem fundo,
E todo o açúcar dessa cidade.
Preciso parar de me pôr metas
Pôr os pés pra perseguir o sol poente
E fazer um tinder pra ver se esqueço dessa azia

quinta-feira, 2 de maio de 2019

Um sonho na barriga

Comprei outro caderno para superar o inverno
pois sei que não há cobertores suficientes na minha cama; a solidão é espaçosa
Não consigo dizer se doeu ou se me acostumei com a dor
Tampouco garanto o tempo que dure, se gosto ou aprendi a me resignar
O que importa é que não tenho mais quem não leia as poesias que espalho pela pele, pela casa ou pela música dos meus olhares
Tenho manhãs...
Silêncios.
Roupa limpa
e um sonho na barriga

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Resignação

...
Por que a poesia foge quando vivo sobre a ameaça de você entrar pela porta que insisto em deixar aberta?
E por que não me lembro dela nem da porta quando você aparece para curar a dor de criá-la?
Sem saber se é bom ou ruim?
Queimei minha pele morta na brasa daquele cigarro
Tentando evaporar o álcool que absorvi na última esquina aberta dessa cidade
Dançando com a fumaça do corpo dele num soneto composto pela solidão escondida entre as rosas que você espalhou pela casa, negligenciando poemas que nunca leu nem nunca vai ler
Enquanto rouba o espaço que eu tinha para chorar
e me poupa de enxugar a cerveja da mesa
Na incongruência da mistura de minhas próprias incertezas e resignações

sábado, 16 de fevereiro de 2019

Outra noite nenhuma

Outro silêncio na vibração da caixa de som
Outra insensatez de meus sentidos dúbios
Outra noite de bar
Outro movimento automático de gritar com garçons pra depois acordar e estender os lençóis amarrotados pelos mesmos movimentos parilhados com aquele que escolhi levar pra casa apenas para disfarçar o fim...
Outra vez meus pés formigando
enquanto meus dedos acariciam voluptuosamente a mesa de madeira que nem é minha
mas que me faz companhia depois de dispensar todos de qualquer compromisso

Meu termostato pirou
e consigo sentir calor nas gotas suadas do copo de cerveja
nas minhas palavras perdidas
nas promessas insólitas que me sustentam enquanto estou sóbria 
e enquanto não estou...
nas espera de quem não vai voltar do outro lado do mar ou do véu da morte
E no medo de não saber onde fica o fim..

Em temer e amar a solidão
Em temer a geladeira vazia de cerveja e fubá
Em temer, por simplesmente não saber como é dividir algum medo
Dividir a lavagem da roupa de cama, o fubá e a breja
Ou um final de mês...

Às vezes só queria morar num livro
do velho Buk ou de Jane, ou de Emily Bronte, 
ou apenas ser Pessoa e morrer enfim..

Mas eu ainda não morri

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Todo dia vira vício

Brindo à madrugada com a pia limpa
No compasso sonoro dos maxilares das duas companheiras que agradecem meu regresso às suas respectivas travessas plásticas
Na sonata do vento chacoalhando as roupas sujas e esquecidas no varal que volta e meia sucumbe ao peso de tantos figurinos
No estalo do gelo na bacia da água que suaviza essas terras quentes nas quais sempre plantei
No limão borbulhando no céu da minha boca seca de um beijo seu..

Brindo à manhã que não demora a me exigir nervosa
Aos pingos refrescantemente musicais no concreto
À minha ausência teimosa de fim..
Ao silêncio de casa onde fotos e bilhetes se exibem para paredes resignadas de distância

Todo dia vira vício
Por isso prefiro dizer ao nada aquilo que eu lhe diria com a língua muda e ácida
Com as baforadas de meus pulmões contraídos
Com os movimentos apudorados de meus rins..

Minhas pernas também lhe diriam muito
Se voce se aproximasse para que lhe abraçassem com a firmeza de uma bailarina manca
Ou se deixasse meu dinheiro lhe falar em tom surdo tudo o que suei
Pra no fim eu não dizer absolutamente nada, tampouco ouvir você ou quem seja
Pois me tornei adcta da necessidade de ser ouvida
E refém da minha própria imaginação

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Mexendo ovos

Leu e releu todas as entrelinhas no tempo em que fingiu esquecer o celular calado em cima da cômoda
Pois ouviu sinceridade quando ele falou em não querer machucar
Hipotetizou o que pôde no caderno sobre a mesa
Espremeu aquelas frases com limão na lata de cerveja
E bebeu
Porque tinha que se preocupar com a racionalização da dispensa
E com o peso do botijão de gás
Como sempre teve medo de dormir vazia quando a madrugada lhe devolvesse do bar
E então lembrou de um amigo que divagou sobre o conceito de controlar
E percebeu, estranha e confortadoramente, que estava no controle
Pois havia paz em seu coração acelerado
Mesmo que o calendário risse e cuspisse nela
e que a ferida na perna latejasse pela segunda quinzena seguida
Respirou, tomou outro trago
E decidiu mexer os ovos

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Ontem a noite

Usaram meu nome
E usaram meu corpo
Justo eu, que negligenciei o tempo de meu uso
que dispensei a companhia das meninas mais bonitas da cidade pra vestir meu uniforme preto, pra vestir o sono da cidade, pra vestir renda azul e escrever, pra nem me vestir
e viver nua e intensa, uma vida só
de uma só vez
Curta a ponto de caber no bolso de qualquer um...
De caber no seu sem saber sair
De na verdade apenas fingir que caibo
evitando os impactos dos passos
e mesmo assim me permitir ser chacoalhada
Na noite em que decido dormir

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Elas não coçam mais

Depois de sete horas as pernas bambearam,
e tive medo de cair na rua.
Mas pior que o medo de cair foi o medo de ser confundida com o chão;
de ser o próprio chão
de não ser nada
de nem ser.

Não tenho escrito,
ou comido,
ou amado.
Leio, cozinho e me divirto administrando minhas frustrações.
Elas não coçam mais...

Troquei os sonhos pelo vento com quem danço na rua onde eu moro e trabalho e há muito tempo decidi que as lágrimas só seriam úteis se pudessem limpar a casa.

Tenho gostado de viver,
preparada para uma interrupção.