Brindo à madrugada com a pia limpa
No compasso sonoro dos maxilares das duas companheiras que agradecem meu regresso às suas respectivas travessas plásticas
Na sonata do vento chacoalhando as roupas sujas e esquecidas no varal que volta e meia sucumbe ao peso de tantos figurinos
No estalo do gelo na bacia da água que suaviza essas terras quentes nas quais sempre plantei
No limão borbulhando no céu da minha boca seca de um beijo seu..
Brindo à manhã que não demora a me exigir nervosa
Aos pingos refrescantemente musicais no concreto
À minha ausência teimosa de fim..
Ao silêncio de casa onde fotos e bilhetes se exibem para paredes resignadas de distância
Todo dia vira vício
Por isso prefiro dizer ao nada aquilo que eu lhe diria com a língua muda e ácida
Com as baforadas de meus pulmões contraídos
Com os movimentos apudorados de meus rins..
Minhas pernas também lhe diriam muito
Se voce se aproximasse para que lhe abraçassem com a firmeza de uma bailarina manca
Ou se deixasse meu dinheiro lhe falar em tom surdo tudo o que suei
Pra no fim eu não dizer absolutamente nada, tampouco ouvir você ou quem seja
Pois me tornei adcta da necessidade de ser ouvida
E refém da minha própria imaginação