quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Não existe

Gosto da música da chuva, da dança das plantas, da alegria da grama e da diversão do vento bagunçando as coisas sem ninguém que o repreenda
Gosto de conselhos tecidos exclusivamente pra mim, isentos da intenção de me mudar, apenas de quem me olha e enxerga o que a ansiedade esconde de mim mesma
Gosto também de cada roxo da minha perna, de quebrar pendrives no console do carro, de mudar de rota, de receber "sins", de não ter ninguém controlando a hora que eu chego ou deixo de chegar
Gosto dos socos e dos chutes, dos cigarros e cervejas geladas no final do dia, de namorar meu violão e o esquecer sem ser cobrada
Essa semana troquei o álcool pela Igreja, troquei a certeza por um dia a mais, nos dei um dia de silencio, brinquei na esquina na favela e percebi que não posso esperar nada de um futuro que não existe

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

A poesia que te machucou

Você me despiu e preparou a cama
Mas não vou dormir se não for para acordar do teu lado
Respirei mais uma vez antes de te convidar a vestir a sua camiseta branca e me seguir estrada à frente
Roubando a inspiração dos poetas e nos embriagando por canaviais
Antes que eu me esqueça,
ou me perca
Chore mais uma vez
Me case com os absurdos que ando construindo
E morra na dislexia da minha infinita solidão
Não espero outra sexta-feira
Nem sins nem nãos
Pois sou daquelas que se deita com quem inventa promessas pro lado frágil

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Outra


A vela queimava no altar enquanto eu me dissolvia no trânsito da cidade
O dia tinha cheiro de crianças e o estômago não doeu
Mergulhei a raiva que me serviu de travesseiro num copo de café e a vi se transfigurar em força e depois em roupa
O Sol e eu sorrimos para nossos papéis com um prazer sereno
Não nasci pra ser outra nem metade
Não me combino com correntes, satisfações ou espera
Hoje é terça e eu não sou a mesma de terça passada
Esqueci o que sentia, desfiz todos os planos, larguei aquela camiseta branca sobre a cama desfeita e saí

sábado, 19 de novembro de 2016

Entre a razão e o coração

Acordei precisando de uma música pra fazer dançar o café que lavou meu estômago
O violão me olhava do canto do quarto
A rua suspirava
A mãe rodopiando pela casa já organizava os primeiros minutos do meu dia
O silêncio dele só confirmava que eu não estava no lugar certo,
minha cabeça não estava sobre meu pescoço,
e aquele sábado jamais seria meu

Eu sabia que ele não é do tipo que faz sala para os problemas
Sabia que tinha se deitado com sua razão ontem
Rezava para que não acreditasse na armadura que vesti antes de propôr nossa despedida e assoprá-lo como um floco de paina
Sabia que eu precisava ficar longe
Sabia que já se passava do meio dia e eu ainda não tinha entrado pela janela do quarto, escancara num convite para reassumir a vida que amanheceu desprovida de sentido

Tenho educação, responsabilidade, força e bondade,
O que não tenho é paz de espírito
e ninguém pode fazer nada a respeito.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Sextas-feiras

Derramou os olhos uma última vez pela casa, rodopiou-a e tornou a entrar, respirando cada canto, como quem se despede num domingo.
Mas o domingo já havia se posto e naquela terça-feira a esperança se aninhara na camiseta branca que recebeu reza a semana toda para que lhe falasse ao corpo.
Não tinha como compreender em sua pequenina alma as dúvidas dele, tampouco queria que sua euforia convidasse conclusões erradas para tomarem o lugar daquilo que já haviam nomeado.
Sabia que teria que conviver ainda com as despedidas, até que se apaixonassem por ela e decidissem morar em seu começos.
Sentia falta da casa toda vez que partia, da luz que molhava sua paisagem de um jeito diferente; do cheiro e do som, mesmo mergulhado em silêncio.
Sentia falta dele e sabia que era essa mesma falta que carregava a bateria do despertador todas as manhãs que subtraía quando aprendeu a viver às sextas-feiras.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Naquele canto da praça

É sempre ali
Que eu respiro, molho o banco, resgato lembranças e pedaços do que nem foi vivido
É sempre ali que eu me lembro que estou sozinha e que respirar é a única coisa sob a qual ainda mantenho o controle
É ali que me sento pra não chegar a conclusão nenhuma, coleciono estrelas sem nome, mancho a calça e me levanto de novo..
Até o dia que me cansar do próprio oxigênio ou de compor paisagens que ninguém vê
Até o dia em que transformem minha praça num prédio, numa empresa, ou numa usina nuclear
Até o dia em que eu mesma nem me lembre da praça ou de mim
Não existam processos fisiológicos naturais nem química sentimental que me leve a sentar ali
Naquele canto da praça

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Meu coração se liquidificou e molhou os travesseiros. A chuva molhava a distância entre nós dois.
Foi então que deixei de concordar com a máxima que prega que o amor verdadeiro é livre...
O quero comigo.

Chamadas perdidas

Hoje senti vontade de morar no teu corpo, te cobrir com meus problemas, resolver os seus e colecionar horizontes nos olhos da gente.
Mas você não atendeu o telefone...


E antes de dormir eu penso que você é mais do que achei que alguém um dia seria..

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Saí do salão dividindo a luz da lanterna de um aparelho celular que não era meu, me encaixando numa das brechas da chuva que se enamorou daquele sábado ignorante de fim e estrelas. Rodopiei pela casa trancada até encontrar uma janela providencialmente esquecida aberta e pulei, deixando a varanda e o amigo enfumaçados lá fora.
Sozinha no quarto decidi que estava cansada demais para trocar outra noite pelo dia seguinte e me guardei para esperar o sol liquidificando os pensamentos que o dia mantivera prisioneiros através da caneta azul.
Namorando minha agenda e o chocolate que levei na mochila eu achei que precisava te contar que não entendo o que sinto, mas que se me pedisse pra casar naquela noite, eu casaria.

https://www.youtube.com/watch?v=j8AGJM1aejM

terça-feira, 18 de outubro de 2016

domingo, 16 de outubro de 2016

Só por hoje

Me levantei do torpor e comecei a me despedir de todos. Eram duas da manhã. Ele pediu carona. Eu assenti. Ele dispenaou todos que não fossem eu e saímos a procura de nossa própria companhia.
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Ele era euforia, desejo e confusão. Eu era qualquer coisa solta no vento. Ele pediu um beijo. Eu não tive tempo para responder.

...










Só por hoje

Me levantei do torpor e comecei a me despedir de todos. Eram duas da manhã. Ele pediu carona. Eu assenti. Ele dispensou seu parceiro e saímos a procura de nossa própria companhia.
.


Ele era euforia, desejo e confusão. Eu era qualquer coisa solta no vento. Ele pediu um beijo. Eu não tive tempo para responder.


...














quarta-feira, 7 de setembro de 2016

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Atemporal

Loucura é perceber que escrevo para você como se fôssemos aqueles dois poetas loucos que caminhavam numa ponte entre suas janelas anteontem.
Não entendo muita coisa.
Mas me entendo quando recolho meus pedaços e, em léxicos, os assopro pra você.

domingo, 5 de junho de 2016

Devorei as poesias que costumava derramar pelas esquinas quando minha fome ficou maior que minha capacidade de produzir alimento.

E vida ficou menos colorida e mais acadêmica. Menos filosófica e mais científica. Menos poética e mais material.




"Estou ficando cego de tanto enxergar

estou ficando surdo de tanto escutar

Nao como, não durmo
não durmo, não como
não como, não durmo
não durmo, não como"

Titãs - Au au

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Sua teimosia, meu desespero

Você é calmo como um final de tarde, retendo as cores do poente em seus olhos para brilhar pra mim pelas ruas, quando a noite me assusta.
Você é terra e Vênus, árvore frondosa sem raiz.
E eu sou toda a água do mundo que vem se debater e arrancar as tuas folhas, só pelo prazer de vê-lo brotar mais uma vez.
Gosto quando a gente dança, parece que se renova. Parece que tanto faz o mundo, o chão ou essa água onde eu afogo você.
Gosto também de quando a gente esquece que já fomos de tantas vidas e tanto mundo, se deita, e espera que o outro perdoe a teimosia e o desespero que nos consome dia após dia