quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Numa tal realidade alternativa...


Às quatro da madrugada as plantas em seus vasos me convidaram para uma conversa na cozinha. Servi-as de água e me afoguei novamente na inconsciência agasalhada por lençol e travesseiros.
Eis que ele me sacode, religiosamente no mesmo horário, vibrando melodias pelo quarto. Se falasse, gritaria meu nome em tom íntimo e intimidador, na prenuncia de um discurso motivacional, recheado de frases de incentivo cuidadosamente articuladas aos proles. Mas felizmente (ufa!) ele não fala, restando apenas a canção que escolhi pra me lembrar que há um engenhoso retângulo devorador de minutos pregado à parede de entrada da instituição que retém minha fidelidade por um pacto de sangue e suor (tudo bem, eles também possuem minha assinatura num tal papel chamado de "contrato trabalhista", tsc), esperando a penetração do meu cartão de ponto em seu interior. Acordei, saltei, plantei mudas e sorrisos, dancei com rodos e vassouras e terminei no fogão, misturando na panela sonho e fibra, pra que meu lado orgânico continuasse a sustentar a coreografia desses dias dançantes.

Numa tal realidade alternativa ganhei uma pilha de revistinhas com cifras para violão com rock dos anos 70, 80, e 90 do meu patrão e minha melhor amiga me pediu para comprar um sapo azul num petshop e levar pra ela... (Tá, não tinha como seu pedido não entrar no meu blog, rs, afinal, não é todo dia que alguém te encomenda pelo telefone um sapo azul e diz que já está arrumando o terreiro pra ele!!)

Hum... Confesso que hoje caminhei a procura do medo que se perdeu nalguma esquina ontem a noite, mas não o encontrei (...danado! Onde será que se meteu!?), então eis-me comendo lenta e quase liturgicamente um chocolate (alpino, ganhado, duplamente mais saboroso) e estimulando minhas ações vitais (vulgo orgasmo, no sentido literal,rs) enquanto ouço Tears for Fears!
Casa limpa, barriga cheia, humor bom, apetite por oxigênio!

Neguei uma oferta do emprego dos meus sonhos (!!) e me esqueci de parar de sonhar...

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Discurso filosófico da sibila anti-comunhão (...)

A estrada me desloca, enquanto ela e eu permanecemos estáticas. Quem se desloca então, pela estrada e à meu favor, é o automóvel coletivo interurbano de seis pneus e quarenta e cinco lugares.
Deslocam-se também alguns pensamentos, regendo a orquestra muda de razão e emoções.
Acordei, e mergulhei na minha consciência racional -sim! aquela que me afasta das pessoas... e as águas frias pararam toda a música, congelaram a sincroniza do meu coração e me jogaram numa crise existencial que sucumbo quase semanalmente, com a qual gosto de brincar, seduzida por suas voluptuosas ironias, seu prazeres gélidos, doloridos, sua dor nos músculos congelados que estão isentos de sensibilidade... dor (?)
Eis-me filosofa da minha própria vida, encontrando e assumindo o medo de me afastar da cômoda e carinhosa solidão.

Não. Ainda não sei de nada.

À Li, 
(por aguentar  meus desabafos melancólicos e recauchutar meu teto para suportar as tempestades que eu mesma crio)



Nota final: Deixei o celular em cima da mesa ritualisticamente e subi a avenida, longos quarteirões até o supermercado 24h, enquanto o sol se despedia do feriado doando ouro aos seus fiéis espectadores desatentos. 
Hum... semana passada parei pra chorar na sessão de chocolates, hoje esqueci várias coisas (o que era óbvio), mas trouxe comigo os seis pacotinhos de miojo sem lágrimas, imprescindíveis à minha própria sub-existência uns dias sem mamãe em casa.
Estou superando minhas crises de terça-feira!!rs

Vou fazer miojo pra hoje e bolo pra amanhã!!

Pela proteína dos meus olhos ... um alguém além de mim.

Comi esfirra de carne, para dar mais proteína às minhas filosofias.
Comi para continuar sendo carne, perdurar a matéria e, intelectual e orgânica, poder filosofar...
Quero seu carinho e ainda não sei se quero você, se quero alguém...
Alguém?
Alguém além de mim...

Essa noite eram somente minha cama, eu e o relógio que me proíbe de sonhar antes das duas da manhã.
Essa noite era somente outra noite em meu triângulo amoroso, rolando na cama enquanto as horas rolavam sobre mim.
E te coloquei pra dormir, antes do sono, pra que eu amanhecesse sozinha. Para que acordasse e afastasse as cortinas do teu carinho e enxergasse por mim, pela proteína dos meus olhos, pelo Ser no Ente de carne e emoção.
O Ente que chama de seu, e "acarinha" em meio aos gritos do Ser que não quer pertencer, mas que eu te daria... se fosse surda!

Eu vinha seca, e amoleci quando derramou todo o carinho que já esperava um alguém pra dedicar.
E derreti. E dissoluta vi, menino-homem com quem adoro estar, que eu esperava carinho também quando o seu tocou em  mim. Vi, senti-o e me confundi.
Pois não o quero só por já o estar esperando, carinho qualquer.
Não o quero porque você esperava pronto para doar, a um alguém qualquer.

Quero saber aceitar seu carinho porque é seu, vem de ti, pois é você e não carinho.
Quero que me dê o que é seu (meu), feito pra mim (por ti), não porque fui quem apareceu na sua vida, mas porque sou eu à aceitá-lo agora.

"Ahh, esfirra de carne!
Quem dera antes de comê-la eu pudesse lhe perguntar como fora a sua vida de carne antes de ser morta, moída e envolvida pela massa..."

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Coragem

Mesmo quando é feio, você expõe, da alma pra pele.
E quando é bonito, tamanha beleza liquidifica a feiura, transformando-a em adubo aos novos brotos, da pele pra alma.

Essa força que veste de fraqueza me admira;
os adornos não a ocultam.
O mel cristalizado pelo tempo, apesar de áspero, ainda é doce.


És cru, natureza bruta.
És pele e alma, sensibilidade sobrenatural.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

De outros carnavais...

Não preciso me vestir de fantasia, pois seu olhar atravessa panos, carnes, cabelo e emoção.
Não preciso pintar sorrisos em minhas máscaras, pois você procura a força motriz das minhas artes, sabendo que pincéis são apenas pontes por onde viajam as cores.

Você me surpreendeu, quando falava montado de sua lua sobre o sol que ilumina minhas montanhas, onde sobrevoa um Zeppelin. Debaixo do seu chapéu, você me surpreendeu ao se apaixonar pelos demônios que eu vestia de fadas. E eu calei todos os contos.

Sou boa em calar, então sorri meu verdadeiro sorriso e dancei.
Enquanto você fazia da noite palco pra dois corações baterem em um pelas ruas e das ruas pretexto pro ritmo dos que queriam continuar a compôr passos nas partituras de piche.
A música? Sim, já a conhecíamos, de outros carnavais...

...e a melhor parte desse sonho é quando eu acordo e continuo a sonhar!

Nina-menina

Te convidaria pra ir ao shopping, cabeleireiro, cinema... coisas que eu não gosto de fazer, mas que as irmãs fazem...
Misturaria na panela leite, chocolate, manteiga, para aquele brigadeiro que eu não gosto de comer, mas que a gente divide com segredos na cozinha...
Pegaria o meu violão, ofereceria a você o seu violão, e tocaríamos horas... horas... e horas... as músicas que você gosta, que eu odeio e mesmo assim sempre te acompanho, pois na sua voz são novas, lindas e únicas músicas. Tocaríamos até que nossos dedos calejassem ou alguma corda arrebentasse.
Depois você iria pra internet, então eu ficaria lembrando de quando éramos crianças e o jardim de rosas da vovó eram as paredes da nossa casinha, nosso  labirinto particular de flores e viagens, onde qualquer coisa existia e a existência era a particularidade de qualquer flor.
Lembraria dos sequestros que fazia e te levava pra nadar na represa, você nem falava, mas conversávamos tanto!!
Lembraria das suas mil peguntas de quando se começa a crescer, da sua sede, aquele espaço imensurável dentro de uma menina que queria entender tudo o que seus olhos viam antes de medir o quanto dá pra entender ante a captação de um olhar... Lembraria de seus conflitos, tantos Deuses e física quântica... Lembraria do teu medo, tuas metas e a simplicidade dos teus prazeres... Lembraria sem orgulho das minhas respostas embriagadas na estrada, que nunca te faltaram, preenchendo as lacunas que se abriam em ti a cada minuto, segundo, milésimo, com o que eu tinha de melhor em mim, que mesmo não sendo bom, era o que podia dar...
Lembro sempre do seu sorriso, que ás vezes era triste, pois apesar das tantas cores no quadro vivo, sabia que pintavam uma obra feia e que o pintor estava cansado. Lembro sempre do seu sorriso certo, filtrando tudo o que circundava você, protegendo-a do mundo e, ás vezes, até de mim. :)
Lembro de todas as nossas fugas, e de quando te prometi um quarto na casa que teria quando ficasse adulta...
Aí eu sempre chego na parte em que você foi embora, eu fui embora e nos restou o telefone e o computador.

Menina, já és mulher. Vestida de corpo que o tempo teceu ainda vejo minha Nina-menina.
Ainda me vejo dizendo que se fiquei em terra é por você, sua mulher e sua menina.
E eu vou continuar aqui, irmã, vou estar viva sim, pra te observar crescer e ser melhor do que eu.
Nem espelho, nem guia, nem guarda-costas. Nem exemplo, nem coisa nenhuma. Só espectadora, que chora todas as vezes que a gente se encontra.

Não diga, não diga... não diga nada.
Ainda estamos juntas, sob o mesmo colchão de terra, debaixo do mesmo lençol azul.

E se sou realmente capaz de amar,
eu amo muito você.

À minha Nina.
Nina-menina.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Toda a companhia

Como  o chocolate que guardei, intocado, pra namorar quando no meu quarto só restasse a saudade e eu.
Como a mensagem breve, que li aos pedaços, encaixando nos intervalos o medo do final da linha.
Como a vontade de convidá-lo pra comer um cachorro-quente, que embrulhei e escondi no bolso, levando comigo quando saí sozinha.

Porque eu queria aos poucos,
do pouco eu queria tudo
e não queria o fim.


Quando chegou, minha janela não tinha cortinas,
e mesmo sem ser nada, era toda a companhia que cabia em mim.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Dia nenhum

Na ausência de boca beijei o copo.
No silêncio de um Deus qualquer foi o café que espantou minha melancolia.
E se eu não deveria ter acordado quando o sol me chamou,
cumprimento a lua, a rua,
e me recuso a adormecer...

Pois meu perfume inebria a merda!!