quarta-feira, 30 de novembro de 2016

A poesia que te machucou

Você me despiu e preparou a cama
Mas não vou dormir se não for para acordar do teu lado
Respirei mais uma vez antes de te convidar a vestir a sua camiseta branca e me seguir estrada à frente
Roubando a inspiração dos poetas e nos embriagando por canaviais
Antes que eu me esqueça,
ou me perca
Chore mais uma vez
Me case com os absurdos que ando construindo
E morra na dislexia da minha infinita solidão
Não espero outra sexta-feira
Nem sins nem nãos
Pois sou daquelas que se deita com quem inventa promessas pro lado frágil

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Outra


A vela queimava no altar enquanto eu me dissolvia no trânsito da cidade
O dia tinha cheiro de crianças e o estômago não doeu
Mergulhei a raiva que me serviu de travesseiro num copo de café e a vi se transfigurar em força e depois em roupa
O Sol e eu sorrimos para nossos papéis com um prazer sereno
Não nasci pra ser outra nem metade
Não me combino com correntes, satisfações ou espera
Hoje é terça e eu não sou a mesma de terça passada
Esqueci o que sentia, desfiz todos os planos, larguei aquela camiseta branca sobre a cama desfeita e saí

sábado, 19 de novembro de 2016

Entre a razão e o coração

Acordei precisando de uma música pra fazer dançar o café que lavou meu estômago
O violão me olhava do canto do quarto
A rua suspirava
A mãe rodopiando pela casa já organizava os primeiros minutos do meu dia
O silêncio dele só confirmava que eu não estava no lugar certo,
minha cabeça não estava sobre meu pescoço,
e aquele sábado jamais seria meu

Eu sabia que ele não é do tipo que faz sala para os problemas
Sabia que tinha se deitado com sua razão ontem
Rezava para que não acreditasse na armadura que vesti antes de propôr nossa despedida e assoprá-lo como um floco de paina
Sabia que eu precisava ficar longe
Sabia que já se passava do meio dia e eu ainda não tinha entrado pela janela do quarto, escancara num convite para reassumir a vida que amanheceu desprovida de sentido

Tenho educação, responsabilidade, força e bondade,
O que não tenho é paz de espírito
e ninguém pode fazer nada a respeito.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Sextas-feiras

Derramou os olhos uma última vez pela casa, rodopiou-a e tornou a entrar, respirando cada canto, como quem se despede num domingo.
Mas o domingo já havia se posto e naquela terça-feira a esperança se aninhara na camiseta branca que recebeu reza a semana toda para que lhe falasse ao corpo.
Não tinha como compreender em sua pequenina alma as dúvidas dele, tampouco queria que sua euforia convidasse conclusões erradas para tomarem o lugar daquilo que já haviam nomeado.
Sabia que teria que conviver ainda com as despedidas, até que se apaixonassem por ela e decidissem morar em seu começos.
Sentia falta da casa toda vez que partia, da luz que molhava sua paisagem de um jeito diferente; do cheiro e do som, mesmo mergulhado em silêncio.
Sentia falta dele e sabia que era essa mesma falta que carregava a bateria do despertador todas as manhãs que subtraía quando aprendeu a viver às sextas-feiras.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Naquele canto da praça

É sempre ali
Que eu respiro, molho o banco, resgato lembranças e pedaços do que nem foi vivido
É sempre ali que eu me lembro que estou sozinha e que respirar é a única coisa sob a qual ainda mantenho o controle
É ali que me sento pra não chegar a conclusão nenhuma, coleciono estrelas sem nome, mancho a calça e me levanto de novo..
Até o dia que me cansar do próprio oxigênio ou de compor paisagens que ninguém vê
Até o dia em que transformem minha praça num prédio, numa empresa, ou numa usina nuclear
Até o dia em que eu mesma nem me lembre da praça ou de mim
Não existam processos fisiológicos naturais nem química sentimental que me leve a sentar ali
Naquele canto da praça

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Meu coração se liquidificou e molhou os travesseiros. A chuva molhava a distância entre nós dois.
Foi então que deixei de concordar com a máxima que prega que o amor verdadeiro é livre...
O quero comigo.

Chamadas perdidas

Hoje senti vontade de morar no teu corpo, te cobrir com meus problemas, resolver os seus e colecionar horizontes nos olhos da gente.
Mas você não atendeu o telefone...


E antes de dormir eu penso que você é mais do que achei que alguém um dia seria..