quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Aroma, cor e música.

Adociquei o quarto com um incenso e reduzi a luz para um abajur, acalmando as cores dos objetos que já tinham sono. 
Soltei acordes de um rock antigo que tirou meus pensamentos para dançar além das portas... O sopro das hélices furiosas acariciou meu corpo feito àquela hora de aroma, cor e música.

Deitei-me com um livro e beijei uma lembrança.
Dediquei à distância meu silêncio, fechando as cortinas das minhas janelas.
Dentro das quatro paredes que represavam meu mundo, repensei nos sonhos de ontem e nas promessas do amanhã me presenteando com aquele momento onde eu e toda a minha loucura continha-se numa jaula sem grades.

Senti um beijo sensual arrepiando minha nuca, transformando-se em suor na pele encoberta pelos cabelos que se divertem enrolando-se na liberdade de viverem sobre os ombros.
É ele, meu personagem preferido saltando do livro que deixei ao lado do travesseiro pelos instantes que fui tinta de caneta por páginas em branco.
É ele, sabendo que não nego seu convite para estar sozinha, à dois...

...e subimos a montanha.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Enquanto espero...

Coletando palavras pelas esquinas, vou sendo sugada pelas dobras da rotina.
Combinando sensações e brincando com os sentidos, sucumbindo ao cansaço e flutuando pelos furacões.
Vou indo assim... ruminando meu dia, cozinhando alguma poesia, encaixando-a num envelope que embrulho e guardo para um alguém. Ou talvez para ninguém.
E então aquela promessa tempera meu jantar, alimentando-me após um dia que percorri tentando esquecer que não habito mais meu corpo, que já estou numa estrada que você desenhou, na poltrona vazia ao seu lado, vindo a mim com você, girando nos rolamentos de um ônibus que se locomove apenas nos meus pensamentos...

domingo, 11 de dezembro de 2011

Só um beijo...

O horizonte pega fogo, sob a vigília da primeira estrela.
Ela é um solitário ponto de luz esbranquiçado, à reger uma orquestra de vermelhos derramadores de silêncio pelas beiradas de um céu que arde quando beija a terra.
Estamos sozinhas, a estrela e eu, cada qual em seu poente.
Esperamos a lua, a estrela e eu, numa ânsia adjacente.
Ambas esperamos um amor, mesmo que um amor platônico, para trazer as cores omitidas por um manto que enegreceu terra e corações.
Ambas assistimos àquele beijo, guardando nossos lábios para a incerteza de sermos enfim beijadas;


Guardando nossas cores e apagando por dentro.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Por trás dos girassóis...

Acordei e no primeiro piscar das pálpebras saboreei a carta de alforria que pousara em minhas mãos após a última noite de avaliações institucionais das releituras estudantis do mundo. Então bebi do sol, me vesti de nuvens, descartei planos para o almoço, esqueci o celular, o relógio, os livros e as listras das minhas meias sujas, jogadas no canto do quarto. Esqueci do que me ensinaram a nunca deixar de lembrar, sorri sem confessar meus dentes e beijei a sagrada dose de café que me espera todas as manhãs no mesmo buteco.

Naveguei pelos ribeirões de piche, pegando carona nos rolamentos mecânicos dos navios que percorrem as praias intraurbanas em todas as direções, escancarando a preponderância econômica nas edificações das suas areias. Pelas janelas avistava a economia administrativa das minhas próprias poesias, que pelos meus olhos colhe as palavras no sistema de engrenagens orgânicas impulsionado por um vento que ignora a meteorologia e passa a assoprar pelos interesses sobrenaturais do capital. O papel para transcrevê-la é pautado pelas regras desse mesmo sistema que me ensinou a simplificar o mundo entre o belo e o feio e poetizar rapidamente apenas o que é belo. E já que não encontro a saída de emergência dessa grande nave que me carrega atrelada a essa transvaloração dos valores, peço parada ao motorista e salto para cima de um muro de onde posso admirar os brotos das contra-ideologias anti-hegemônicas plantados entre as árvores e nascentes, pelas mãos dos duendes de jardim que me sorriem embarreados e cheirando a protetor solar.

Transponho o muro e me abrigo entre as cortinas do camarim que me permite assumir as vestes desgarradas de um modismo contemporâneo e me traz um novo sorriso ao interpretar o meu papel social favorito. Aceito a cobertura do creme vendido sob a promessa de proteção anti-raios violeta e finalmente despejo-me junto à base branca que se mistura aos pigmentos para conceber as cores aspiradas pelo plano da imaginação.

O sol vem prometendo seu calor e a luz que vence a delicadeza das nuvens, condescendido pelos miseráveis espectadores que estarão de mãos dadas naquele refúgio intra-urbano até o poente.
Atrás dos pincéis e de cada pingo de cor pela pele e roupa, a menina e seus segredos brincam entre girassóis tão solitários e sorridentes quanto ela.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Cadê meus grilhões?


Fechei-me num livro. Mas Zaratustra gritou-me de cima do caixote onde armazeno meu alimento literário, ao lado da cama. 
Escapei por entre as folhas mal temperadas quais degustava, dei as mãos ao Super-homem e fui observar os dormentes da minha montanha particular...

sábado, 26 de novembro de 2011

Filosofias de praça

Saí à caça de outro poente, incerta sobre o desabar das nuvens que omitem cores de uma pintura que não posso ver. À minha frente há uma praça, que observo de cima das pernas postas em cruz, acolhendo os papéis em meu colo. Mas às vezes é a praça que senta em meu colo e os papéis voam a minha frente...


Debaixo desse céu há outra praça que te acolhe e a seu cabelo que eu tanto gosto, enquanto brinca pelo dia que se derrete sempre no mesmo horário.
Mas sozinhas, sem as cores, o menino ou o cachorro, quem senta ao meu lado é o silêncio de tanto ruído urbano que já me acostumei a calmamente ignorar...


Pronto. Tudo se tornou anil.
O mercúrio traz a sombra de meus dedos ao papel onde se deitaram as palavras prometidas ao meu professor preferido.
Dispus-me do banco a filosofar e ser poeta. A praça se dispôs para meu olhar filosófico enquanto meu corpo disposicionou-se várias vezes, exibindo-se para um poente omitido.
Sentada, percorri um caminho impulsionada pelo espanto de perceber que tantas palavras utilizadas em trabalhos acadêmicos ou poesias vespertinas não tem o sentido que teriam se ainda ouvíssemos o que elas têm a dizer em sua síntese dialética originalmente grega... enfim, o trabalho está pronto e seu palco foi a praça.

Vou voltar para casa, assar pão de queijo e escrever num blog que ninguém lê.
Não... não há tristeza em minhas composições solitárias. Nietzsche também não obteve sucesso sempre que produziu suas sintaxes... Essa é minha poética e filosofante maneira de SER por trás do meu ENTE, após quebrar os grilhões e escolher sentar sobre todos os poentes...

Feliz aniversário!

Degustando um poente pelas costas, exponho as veias às injeções de adrenalina que me invadem o quarto no quinto marco da septimana.
Nas últimas manhãs do nosso calendário, não encontrei poleiro. Permiti-me partir num bater de asas que finalmente hoje me arremessa exaurida na cama. E é nela que rolam pensamentos, sonhos, desejos e lembranças, envoltos no calor de um lençol dupla-face, de euforia e acalento. E é nela também que eu desenrolo algumas letras que trouxe acomodadas entre as asas e me cubro com elas, sendo-as através de mim e encontrando você quando decido sê-las.

Estico os olhos e um bem-te-vi se despede do sol, do lado de fora da janela, onde também está uma borboleta experimentando flores quaisquer pela prima vera que se estende por nós, em nós e para nós.
É pra ela que sorriem minhas palavras, redimindo-me pelo esquecimento de dois dias atrás...


Verdade que hoje não tenho flores para te dar, nem luas, pois o céu enegrecido dispensou a nossa amiga robusta. Não tenho desculpas e nem meu calor, pois estamos tão imersas em nossas rotinas egoístas que os aniversários vêm passando na ausência dos cumprimentos -pessoais ou virtuais.

Mas aqui, te prometo uma canção, um violão, um bolo e, como não poderia deixar de ser, um café, sem gravar em tempo algum a intenção que brota no brinde de todas essas coisas.
Coisas, quais já superamos.
Luas, pelas quais há tantos e tantos anos passeamos.
Anos, que se somam sem grande significância, pois a evolução não é cronológica...
Amor, que é o que temos e esse não passa.
Divagações, onde me perco agora, te encontro e essas sim te dou de aniversário!!

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Enquanto é tão cedo


E ainda daqui de trás da janela eu procuro o branco da roupa, mas no final quem me abraça é sempre o cinza do jaleco que hoje se mistura ao tom do céu e das lembranças...


Apesar de eu ter sonhado com seus braços essa noite, menino, eles não me alcançaram quando acordei.


http://letras.terra.com.br/o-teatro-magico/361399/


Manteiga para a humanidade...

Por trás da janela fechada, ouço estalarem os metais dos telhados das casas sob a chuva que roubou o calor do amanhecer.
Meus olhos úmidos de tanta lágrima gelam minha alma de hoje e procuram nos trajes de palhaço um sorriso, mesmo que seja triste.
Por tanta água e tanto sonho despertei faminta, de pão e humanidade, mas comi os velhos sonhos que foram apenas o que sobrou para mim sobre a mesa.

Ontem ignorei estar sendo observada e aceitei com uma naturalidade que agora me espanta ser molestada por um qualquer enquanto me curvava sobre o peso de tantos nós no dia... O que ele levou sinceramente não me fará falta, pois esta já faz dele morada, esvaziando sua mesa de pão ou humanidade.

domingo, 20 de novembro de 2011

Alecrim

Guardei um incenso de alecrim para perfumar um momento que ainda não construí.


Vou acendê-lo quando quiser lembrar que já foi aceso por ti e perfumou um pensamento que se balança entre os sonhos em comum de uma menina e um menino distantes...

sábado, 19 de novembro de 2011

Num repente, dei seu nome...

Cansada de conter pensamentos em pequenas implosões saí para descarregá-los pelas calçadas, numa corrida onde hesitei apenas quando os ribeirões de piche cortavam meu caminho, quadriculando a rota da menina sedenta pelo seu próprio suor.
Meus tênis engoliram os minutos, trazendo a digestão para as veias pulsantes de minha tez e cada passo cavava um sulco profundo onde podia depositar idéias mastigadas para esquecê-las no movimento seguinte. 
Ao esvaziar minha mala invisível e exaurir o fôlego e a força dos tornozelos encontrei o pouso perfeito, entre um rio urbano e um bambuzal, num bairro pouco acimentado que era omitido pelo cinza das gloriosas edificações.
Pousei sobre a embriagues de um novo poente, enquanto as gotas de suor acariciavam minha pele há muito não tocada.
E o sol ia escorregando entre dois prédios, sorrindo rosas em cima das nuvens que acolchoavam sua partida... Eu ia esticada no colchão verde, trançando pensamentos e atirando-os ao poente para tentar laçá-lo e persegui-lo além do horizonte.
Decidi esperar a primeira estrela me convidar para voltar para casa. Encontrada com o cansaço, não mais me sentia só e esse segrego eu guardei no bolso de uma velha bermuda jeans... 
Mergulhava o olhar no azulado que se opunha ao poente a procura do meu sinal de luz, enquanto palhas se embrenhavam nos fios castanhos despenteados e livres à passear sobre minhas costas. 
Mas foi num repente que se pintou a primeira estrela, bem acima das nuvens que devolviam o rosa emprestado pelo sol. Sorri para ela e lhe dei seu nome, rs, que repeti ao levantar-me e persegui-la com os pés apaixonados. Saboreava lenta os quarteirões, de mãos dadas àquela que evocava pelo nome do menino a descobrir esquinas novas comigo, que sempre diziam a mesma coisa: "haverá um poente para cada dia e uma estrela disposta a passear com meus olhos."

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Seu jardim, sob uma velha lua...

Pousei em minha própria janela, bem quando o céu adotou outro azul para exibir sobre os telhados das casas –ou os prédios destelhados.
Meu quarto era cor nova também, vestindo os tons que meus olhos colhiam no jardim gráfico dela que cultivava seus pensamentos à espera do pouso de borboletas.
Cada linha é um canteiro com as mais belas e exóticas flores. E bem ali, na linha do horizonte onde a tarde se rende, vejo-a com seu regador derramando algumas poesias e uns sorrisos derretidos sobre um papel virtual que é engolido pelos meus olhos.
Passeio pelo seu jardim escolhendo as melhores pinceladas para o quadro dessa tarde esvaída em mim, alimentando-me dos frutos plantados no ontem, sorrindo noutro espaço-tempo e a imagino a sorrir atrás de sua janela de vidro que guarda algumas lembranças de um passado em comum.
Paro e atiro meu olhar para além da janela, onde encontro-me com uma nuvem cor-de-rosa viajando ao oposto do poente... Sinto o vento que entra carregado do aroma de um copo sujo de café que descansa sob meu paladar revestir-me de velhas lembranças.

"O meu pensamento tem a cor do seu vestido".


"Ou um girassol que tem a cor do seu cabelo"


E ela chegará logo mais, reinando em um minguante, para nos lembrar que esteve lá sempre que o cobertor foi negro. Esteve mesmo quando se escondia atrás das nuvens ou fugia do sol, em ressessos sociais. rss...
E nessas noites em que a lua brincava com seu brilho ou nas tardes quando quem reinava era o sol, nós passeamos juntas enquanto eu te lia e você sonhava e quando eu adormeci e você voltou ao jardim para regar suas flores.

sábado, 12 de novembro de 2011

Sua antimatéria

Ele levantou e se molhou.
Seu fogo que vem pintando as cores de um mundo adormecido não transpôs as nuvens naquela alvorada e fez de sua luz música para os sonhos despertos de um alguém que já cumprimentara seu silêncio.
Os pássaros cantavam também e a música deles misturava-se com a dos pingos que caiam do lado de fora da janela, num ritmo isento de qualquer influência do modismo implantado pela mídia. E então dançaram meus pensamentos, empurrando o cobertor que já havia se colorido de amarelo sob a incidência daquela manhã chuvosa.
Vestia um pano velho e os sorrisos irrigados pela chuva de léxicos que desaguou enquanto um dos sonhos que minha cama cria para mim abrigava-me da noite.
No meu quarto haviam duas janelas e numa delas eu guardava um poeta e sua chuva de palavras onde banhavam-se minhas esperanças secretas, dançando no ritmo mudo que ele compunha e assoprava. Era matéria desmaterializada e talvez antimatéria ao mesmo tempo. Era sua coleção de dígitos que desapareciam após um clique num dos pequenos botões que serviam como parapeito da sua janelinha e apareciam na minha janelinha, sendo então matéria desmaterializada e materializada através dos muitos quilômetros de distância, sem confessar as vias por onde trafegavam. Chegavam sem aviso prévio, entravam pela minha janela anunciando-se com um “bipe” e tornavam-se então a antimatéria, que consumia toda a atenção a sua volta e o oxigênio que não podia mais ser tragado pelas minhas narinas.

E então a luz do sol continha-se entre meus dentes, exibindo-se naquela manhã onde apesar de o sistema vigente ter me liberado dos compromissos matinais, meu relógio orgânico despertava-me no mesmo horário. Os sonhos de ontem já estavam espalhados pelos tacos de madeira do chão do meu quarto e amaciavam minha caminhada até a pia onde um beijo refrescante me aguardava nas cerdas da minha escova. Cumprimentei a menina que estava lá a me encarar com seu sorriso mudo e viajei por um instante nas ondas que se faziam nas pontas de seu cabelo recusando-se à doutrinação de qualquer pente. Ela tinha olhos pequenos, mas neles cabiam tudo o que via. Então seu tamanho não era medido pelas dimensões do espelho e sim pelo infinito atrás dos seus olhos.
Sorri de volta para ela e comecei meu dia molhando os pés no dissoluto das nuvens que uma amiga me encorajou a postar e deixando que outras molhassem os entes além da minha janela...


;)

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Palmas para o poente!

Sentei novamente ao lado do meu silêncio que não era a ausência de palavra nenhuma, mas uma forma de co-existir nessa acinzentada desordem sentimental.
Cansada de vomitar meu mundo e vê-lo dissoluto numa poça que permanece apenas para desenhar os desvios das pessoas, apanho a agulha e costuro minhas palavras, uma a uma, para não escaparem mais de minhas roupas.
Levanto e caminho mais uma vez, procurando uma cor para substituir aquele cinza implicante.
Poderia eu colorir-me com a sujeira gratuita ao inalar a fumaça dum canudo de erva ou beijar o copo dum veneno barato... Comeria um pedaço de carne, falaria palavrão ou agiria promiscuamente?
Não. Sou ridiculamente avessa aos prazeres naturalizados e apaixonada pelo domínio das minhas vontades.

Deixo-me corroer com a inquietude que me acompanha pela peregrinação no final desse poente, que congelei numa memória mecânica e deposito meus passos pelos antigos becos escuros onde já me perdi.
Olhos ávidos, devoro os quarteirões com a fome de linha de chegada, a esperança salivando a cada esquina pela surpresa que talvez esteja me esperando lá.
Mas só pousei na parada a tempo de ver um tumulto na praça em frente, onde minha recompensa não estava.


Também não estavam os beijos coloridos e parti cinza.

Poltrona vazia

Deslizo sobre uma nova intenção enquanto minha caligrafia desliza pelo papel num expresso sem paradas.
Ontem eu fui perdoada de novo. Hoje observo as flores que passam pela janela, brotando sobre esse perdão que vem dia a dia remodelando meu sorriso.
Estou na fileira que se esconde do sol nascente, o que me faz pensar que ocuparia o lugar certo se meu amigo dourado estivesse se pondo no horizonte que acompanha a estrada que percorro sobre as rodas que não são minhas.
Minha também não é a mochila vermelha, o vestido azul tingido pela minha mãe, os papéis no colo ou as sandálias de couro que abraçam a meia branca no pé.
Minha não é a bagunça de fios castanho claros ou a pinta no lado direito do pescoço.
Não é a cor da minha pele. Tampouco dos meus olhos.
Realmente meu é o silêncio sentado na poltrona vazia ao lado, num ônibus interurbano. Meus são os seus sussurros que me lembram que nessa manhã, mais uma vez, eu optei por caminhar sozinha...

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Te levaria...


Te levaria comigo
Pra um canto que tampouco é meu
Te deitaria ao meu lado
Na direção cardeal que você escolheu
Não falaria nada
Pois só o silêncio é realmente o breu
            Onde nascem estrelas
Para os poentes que a gente esqueceu...



(...)
Bem ali, 
estenderia um lençol para nós e emendaria o pôr-do-sol ao despontar-da-lua...

Tentativa de conexão não estabelecida...

Corri sobre uma idéia,
que deu voltas no poente até pousar arfante num banco de praça que havia assistido sozinho a despedida do amigo dourado.
As gotas de suor e eu estávamos sentadas ali, quando então o Sol compadeceu-se com nosso atraso e desmanchou seu último sorriso em rosa líquido. A tinta escorreu atrás dele e pelos prédios ao lado oposto, presenteando a menina e seu fiel cachorro com mais alguns minutos do espetáculo que tanto a deslumbrava.
E meus olhos refletiram a nova cor, mas enxergavam apenas uma sequência de números mudos na janela de vidro que cabia na mão.
E a cor se foi, perseguindo a luz à cumprimentar outros bancos de outras praças...
Acompanhada pelo silêncio, segui meu rastro de volta a procura de um acalento para meu coração espremido pelo vazio. Abracei a cama e fui abraçado por Robert Plant, que cantava para minha frustração.
Entre as grades, vejo as nuvens interferindo na transtonalização dos azuis e transformando o teto numa abóboda cinza e feia.
Cinza também estão meus pensamentos, que saltam a cada batida rítmica do bumbo no quarto ao lado (...)

domingo, 6 de novembro de 2011

Fatias

Ontem escorreguei pelo asfalto, sentindo o vento dissipar as tensões e reunir uma única intenção enquanto brincava com os cabelos dentro do veículo que trasportava os meus e eu. O destino era o refúgio coletivo, onde o verde derramava-se aos quatro cantos e onde começava a real viagem dos pensamentos ao descanso dos corpos...
Por lá percorri discussões filosóficas vomitadas em cima dos pratos e derretidas junto ao suor daqueles que dividem prazeres cármicos comigo. Depois fui fatiar o dia, ruminando o cimento das minhas edificações mentais...
Plainei o olhar sobre o lençol líquido de reflexos represados, observando a diversão dos pássaros que esbarravam na água em rasantes refrescantes;
Balancei o corpo entre dois pilares da varanda enquanto meus olhos balançavam-se em teorias impressas;
Enfeiticei farináceos para que doutrinados pelo forno arrancassem sorrisos na companhia de um café vespertino;
Atirei-me ao cume da minha montanha favorita de mãos dadas com as pipocas que fugiam da panela quente no momento em que o Sol declarou sua partida;
No final, assoprei um beijo pra senhora do céu e abandonei-a ao seu posto escuro enquanto eu rolava com as palavras sob um teto de sonhos despertos.

Agora, escorregando de volta, penso na avaliação institucional dos meus pontos de vista -tão subjetivos!- a qual deverei me submeter exatamente às 14:00h, pelo horário de Brasília, no dia 06 do mês de novembro do ano de 2011.

Um bom domingo!

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A lua, pela perspectiva dos pés!

Pendurei a cabeça no canto da cama, experimentando oferecer uma nova perspectiva aos meus pensamentos que teimavam em rodopiar fora de seus lugares.
Migrando o olhar para o teto negro salpicado de luzinhas, me encontrei com a lua que me disse estar absolutamente sem preocupação.
O sangue começou a fazer pressão, aprisionado na caixa onde regava aqueles pensamentos e pediu para que eu nivelasse o corpo à cama. Sou teimosa tal qual meu rebanho, portando inverti as posições caçando aquela que insistia em brilhar apenas para os pés. Sentia náuseas a cada giro das hélices ferozes que assopravam fios de cabelo e pensamentos à fio.
A lua se aproximava, tagarelando sobre minhas descertezas.
Alguém continua distante, entre sorvetes de chocolate com côco, papéis e mesas de bilhar.
E eu descansava meus pés sobre a cabeceira, tendo pressa num novo amanhecer.

Apertando os olhos, convido o sono para ser minha rota de fuga, porém, ele apenas pede para eu espere a lua que vagarosamente debruça-se na mina janela (...)

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Varal de pensamentos...

Do céu que tanto amo, tenho só uma pequena fatia emoldurada que não carrego no bolso ao abandonar o quarto.
Aproximei minha cama da janela antes de deitar, para ficar mais perto dos meus sonhos. Se o medo entrar, minhas fantasias cantarão para ele.
Elas, que nem são tão minhas, 
pois não as controlo...
Elas que são perfeitamente minhas, 
pois cabem no tamanho do meu sonho!
Hoje joguei você para cá e para lá dentro delas, mastiguei-o e o cuspi, para estendê-lo no varal onde penduro alguns pensamentos.
Sentei sob outro poente, dos dedos ainda escorre alguma intenção silenciosa que mancha o papel e deixa ilesa a possibilidade.
Um bom dia, passarinho.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Seu pincel

Palavras pintaram além de uma pequena janela de luz artificial; pintaram todo o azul emoldurado em outra janela, onde naquele momento descansava meus olhos.
Junto aos estilhaços de nuvens, navegava num mar que era também a via de um pensamento bilateral balançando-se sob a vontade das ondas. Da areia, cada qual em sua praia, um menino e uma menina dançavam no mesmo compasso, mesmo tendo apenas o espaço e um tempo subjetivo como pares para aquela valsa paradoxal, onde se encontravam somente nos seus desencontros.

domingo, 30 de outubro de 2011

Paixão dominical

As pálpebras brigaram com a alvorada, pelo direito de continuar sonhando naquela manhã nublada, enquanto os lençóis suplicavam para que a pele permanecesse envolta pelo casulo de algodão. A briga perdurou metade da manhã, quando os lábios ansiaram pelo beijo do café guardado numa garrafa.
Mas a garrafa chorou novamente, molhando o copo com apenas algumas gotas de seu sofrido néctar. A faca machucou a pele do mamão recém apanhado, que foi palco para a arte do amadurecer das frutas e repousou ao lado deste que aguardaria um outro desjejum.
O vento me cumprimenta, refrescando o corpo a escrever, enquanto faz os objetos dançarem ao seu ritmo. Da rede, meu olhar percorre distâncias até o cume de uma das montanhas que cercam o vale, onde nuvens de chumbo derramam sua sombra.
Ofereceria ao Sol preguiçoso de hoje um gole do elixir capaz de roubar qualquer timidez na rotina. Mas os tons acinzentados que se espalham pela vista realçam as cores dos caminhos de meus pensamentos, que voltam lentamente do diálogo com Heidegger, no qual se dispuseram a apaixonar-se nessa manhã dominical.

sábado, 29 de outubro de 2011

Um dia de refúgio

Desconexa das engrenagens orgânicas que se acostumaram a oferecer-me e roubar meu alimento, escorreguei para um refúgio onde acordes podiam percorrer a paisagem sem cercas. Da rede, um copo de café fazia-me companhia durante a espera da concentração que ainda boiava pela represa onde havia deixado o calor horas atrás.
A montanha oeste já havia devorado o Sol e eu me instalei exatamente abaixo dum céu opaco, sobre um chão molhado que acusava os beijos da chuva. Às margens de um espelho líquido, sapos se aproximavam boiando e me fazendo pensar que apreciavam a música nascida no encontro dos meus dedos com as cordas de nylon do violão.
Era apenas eu ali de novo, escutando e ouvindo, vendo e aceitando estar doente por enxergar. 

E os poentes...



...vão ficando para trás (...)



quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Um banco embaixo de uma árvore

Pois aquele era só um banco, do qual sentada, eu continha meu desejo de enfiar um palito nas nuvens e trazer para mim aquele apetitoso algodão doce.
Mais uma porção de horas que guardei na minha coleção, cedendo algumas para que o tempo incidisse sobre a tarde, derretesse-a em ouro líquido e a fizesse escorrer pelos prédios.
Eu, imersa naquela subjetividade temporal observava as pessoas, sentia calor, contava formigas e namorava o céu...
...de um banco embaixo de uma árvore (...)

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Numa tal esquina

Saltei da cama e troquei a lua por um beijo que trombou comigo numa esquina da rotina. O gosto era de café e o sorriso que despontava entre duas pontas cabia no meu bolso.

Agora, sentada enquanto me movo, rio pelo atraso do segundo ônibus matutino, sentindo na boca a mistura de gostos e carregando as sobras de um ato improvisado.

Um mundo para alguém

O mundo não são os passos calçados que pisam sobre a calçada, mas as pedras que compões as passarelas.
O mundo não são os modelos a desfilar no fio da modernidade, mas as árvores, casas dos pássaro,s que às vezes as trocam por pousos em fios.
O mundo são os desvios de rota, que desenham os desencontros,
A música que rege os descompassos e os beijos trocados, ou simplesmente guardados.
O mundo se move e ao nosso redor dançam nossas sombras sem ensaios, na mistura dos ritmos criados pelo Sol e pela Lua.
Dançam também os lábios, na coreografia de alguma intenção, sob a vigília dessas duas esferas luminosas, que nessa manha assistem-nos dividindo lugares na platéia.



segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Paradas

Parei para admirar o monumento que armazena telégrafos de papel e imaginei quantas seriam as expectativas ali aprisionadas.
Parei para sobrevoar as vitrines de um sebo e calculei quantas horas meu relógio poderia ceder à dança com as palavras que ali aguardavam o convite das ires.
Parei para contemplar o sol vespertino e enquanto ele mudava a cor do meu cabelo e fazia espelho do mel dos meus olhos.
Parei ao me movimentar com alguns pares de rodas que transportava a sensibilidade contida no coletivo de engrenagens orgânicas.
E em meio às minhas paradas fugazes, pararam para me observar enquanto nuvens viajavam indiferentes aos movimentos aqui no chão, sabendo que nunca voltariam a ocupar o mesmo lugar...

Sua parede

A garrafa de café chorou em minhas mãos, e suas lágrimas escassas pediram abrigo na saliva.
Os olhos pediam abrigo no céu e para os ouvidos bastava o silêncio, onde caberia a conversa de um casal de papagaios à porta da cozinha.

Se me beijasse agora, roubaria de min o mel que lambuza o pão que levo à boca.
Mas seus lábios estão além do apelo dos beijos.
E seus olhos desviam das poesias que escrevo para você.
Menino, hoje não sentei no gramado, pois as nuvens derreteram-se para beijar o chão. Pelas ruas o rastro daquele encontro imaculado, que meus sapatos não calçaram suas asas para que fosse percorrido.
A mim restou apenas a janela, por onde chegou o poente para finalmente confessar porque me escraviza em sua paixão.
Aceitei a chaga sussurrada ao pé do ouvido, e num riso derramei-a num papel que dobrei e guardei no bolso.
Ah menino! Eu queria por hoje poder não querer nada!
Queria abandonar a lei que rege os pores-do-sol e as fantasias de menina...
Deixar de ser matéria!
Não ser mais coisa alguma.
E brincaria de estar nas paredes que sustentam o pequeno mundo do seu quarto...

sábado, 22 de outubro de 2011

Quanto cabe numa insônia?

Já havia aberto a janela para a insônia e me encontrava fitando algum ponto no cobertor negro-alaranjado que se estendia sobre as casas da cidade.
Ansiosa, esperava talvez a chuva pra preencher com sua música o silêncio que ecoava no vazio de meu ser.
Desejava que as nuvens derretessem para roubar a monotonia daquele vácuo que namorava com o meu pela janela.
Em ambos não brilhava m estrelas, então não entendia como a lua havia sorrido antes de eu me deitar.
A noite prosseguia quente, ilesa ao transcorrer dos minutos que também não se importavam com o descaso daquela que deixava claro que abraçaria o globo até ser expulsa pelo sol.
E me restava apenas esperar por aquele sol, remoendo segredos que alimentavam a insonia que se abateu sobre uma menina cansada.

Mas o cansaço é sempre menor que o sonho,
e o sonho era bom demais para que se perdesse no fechar das pálpebras que separaria a  menina da obsessão pelos números que se sobrepunham e escapavam do relógio.

Bem-te-vi

Hoje quem me acordou foi aquele bem-te-vi, que piou uma longa e única vez e passou a me olhar pousado na janela. Respondi-lhe e o vi voar, porém entreguei-me novamente aos sonhos para ser novamente despertado pelo bipe de uma mensagem.
Estou às margens da despedida da minha convalescença e me vejo distante de onde me achava quando caí daquele degrau disfarçado na minha rotina.

Caminhei vestida pela subjetividade, durante as semanas em que estive acorrentada aos meus lençóis. A subjetividade também vestiu o cenário dessa caminhada, que posso dividir no diálogo mudo entre o léxico e a íres.


(...) Segunda-feira, com os dois pés no chão, sairei para o trabalho levando na bolsa a paixão pela poesia que brota da destruição do que nos ensinaram a chamar de realidade. A paixão pela possibilidade da construção partindo de um novo ponto de vista ou da cegueira da visão -tanto faz, é tudo subjetivo mesmo.
Acho que tenho enlouquecido, mas não consigo desfazer esse sorriso no meu rosto.
Não consigo diminuir meu prazer por acordar, abrir os olhos e enxergar algo em que não acredito.
Estar feliz por não acreditar em nada do que vejo.
Por contemplar o caminho e conversar com bem-te-vis.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Os acordes delas

O violão apoiou seu braço no parapeito da janela e sorriu ao ver o quarto ser preenchido pela alegria das vozes que dispensava os acordes.
A Andorinha e a Borboleta escorregaram junto aos raios solares que chegavam para participar da nossa festa, mas quando a lua bateu à janela, beijei a cama sem muitas idéias.
Nem a luz azulada que cobria os lençóis nem a canção dos sonhos da Borboleta que repousava ao meu lado pintavam a ponta do sorriso que faltou em meu rosto, quando aquele brilho se apagou sem resposta.
O silêncio daquela espera secreta era meu mártir e meu prazer, era a nave que me carregava bem perto da lua e transformava as lágrimas secas em prata líquida para lavar meu rosto.
O conforto vestia a mim mas não era meu; ele vinha do descuido de duas meninas que se renderam ao cansaço de uma euforia vespertina e balançavam-se em seus sonhos.
Eu optava por sonhar acordada, poetizando com minha angústia e minha felicidade enquanto era assoprada pela tempestade que nascia do ventilador.

Às minhas meninas.